A fada do dente (ou seja, eu)

Depois de quase sete anos de vida, minha filha entrou naquela fase em que os dentes começam a ficar moles (aaah que aflição!) e cair. Ela está com duas janelinhas na boca. Eu achei que não ficaria tão emocionada com esse momento, afinal, já passei por isso com o meu mais velho faz uns anos e foi tudo suuuper descolado e divertido. Rolou fada do dente. Rolou piada. Rolou guardar o dente para o futuro (onde raios eu coloquei a caixinha??)

Mas não. Com minha segunda filha me vi completamente abalada, tomada por sentimentos do tipo “como o tempo está passando rápido”e “como foi que isso aconteceu?” Não sei se por eu estar vivendo essa experiência mais velha (alô 30 anos!) e pela consequente “maturidade” que acompanha toooda essa idade.

Perder os dentes de leite é uma coisa tão tão comum. Todo mundo passa por isso. Mas, para mim, esse momento está marcando toda uma nova era de independência. De maturidade física e emocional dela que, confesso, me trazem sentimentos conflitantes. É lógico que eu quero vê-la crescendo independente e feliz. Mas por outro lado… poxa, onde é que eu entro nisso?

Sempre estive presente nos momentos importantes. Primeiros passinhos. Primeiros xixis no lugar certo. Primeiro pesadelo. Primeira virose, primeiro antibiótico… Primeiro livrinho favorito. Primeira briga com o irmão (que inaugurou essa calorosa relação fraternal de tapas e beijos deles)… E agora, de repente, percebo que ela já tem sua própria vidinha, com outras prioridades. Suas próprias conversas, encontros, compromissos sociais que não me incluem. Piadas internas que não são comigo. Talvez os próximos dentes dela nem caiam na minha presença! Quem sabe ela estará com as amigas, na aula de dança ou no inglês quando isso acontecer!!

Enfim. Só sei que minha menina que ontem era um bebê agora tem grandes responsabilidades para com sua arcada dentária. Acabou a primeira chance, esses dentes agora são – se tudo der certo – para sempre.

PARA SEMPRE.

O ‘para sempre’ não assusta um pouco?

Para ajudar em toda essa minha crise, estávamos ontem conversando sobre o que a fada do dente ia trazer pra ela (eu adoro a fada do dente), quando ela olhou para mim com a sua nova cara de menina sabe-tudo, colocou a mão na cintura e disse:

Quem contou? Sério. Poxa vida.

Cortaram meu barato.

EU (chocada): COMO ASSIM? A FADA DO DENTE POXA. ELA SEMPRE TRAZ UM LIVRO, UM GIBI OU UM DINHEIRINHO

Meu filho decide entrar na conversa. Tira o rosto de dentro de seus quadrinhos do Asterix e Obelix e diz:

Virando para a irmã, com um ar conspirador:

FILHO: É a mamãe, a fada.

FILHA: Eu seeei que é a mamãe.

É possível que nem realizar o meu papel de fada tranquilamente eu vou conseguir?

EU (com ar de criança birrenta): NÃO SOU NÃO!  É A FADA DO DENTE, MESMO!

FILHO OLHA PRA FILHA, CONSPIRADOR: Ok ok, deixa ela fingir que é ela.

FILHA PARA O FILHO, RINDO: Ok.

ELES: Risos.

EU: crise interna

 

4 thoughts on “A fada do dente (ou seja, eu)

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