
Ah, mães. Somos tantas coisas. Enfermeiras, motoristas, psicólogas, administradoras, conselheiras, professoras, fadas do dente (meu favorito!), gerenciadoras de crise, chefs de cozinha…
De todas as nossas maternas funções há uma que me assombra com o nível de sua responsabilidade. É uma função sutil, quase inconsciente, mas que está ativa o tempo todo: intérprete de realidade.
Basicamente, a tarefa (nada básica) de explicar o mundo para eles, de ensiná-los a olhar para a realidade, compreendê-la e saber reagir a ela através das ferramentas que lhes damos. Fácil né?
Interpretamos o mundo para eles desde que são bebês. Por exemplo: Um bebê que, começando a andar, tropeça e cai, antes de chorar, olha para a mãe em busca de amparo. Nesse olhar, a pergunta invisível: O que acaba de acontecer? Devo chorar? Deixo passar? Desisto de tentar andar? COMO reagir?
Somos o filtro. O espelho. Através de nossas próprias reações, dizemos a eles a todo momento: você é indefeso. Ou você é capaz. Você é importante. Você dá conta. Ou não…
Pintamos mundos cor de rosa, pontuados por bondade e gratidão. Ou mundos assombrados pelo medo e insegurança. Mundos ressentidos, mundos cheios de dor, mundos acolhedores, fáceis, difíceis. Mundos otimistas, mundos pessimistas. Mundos calorosos ou cinzentos. Pintamos mundos que são uma miscelânea de tudo isso – como a vida.
E, de interpretação em interpretação, os ensinamos a pescar. Eles criam um repertório próprio e começam a interpretar sozinhos. No longo caminho da vida, encontram novos intérpretes: professores, amigos, influenciadores, ídolos. Mas a interpretação da mãe… ah, essa é única. É a primeira, a marcada a ferro e fogo, imune a mudança do tempo ou das estações. Ela fica até o fim – ou até a terapia na vida adulta começar a fazer efeito 🙂
Talvez a interpretação da mãe tenha uma validade eterna. Até hoje, de vez em quando me pego ligando para minha mãe para perguntar o que ela acha de certa situação. Ou o que faria. Nem sempre a escuto, confesso. Mas muitas vezes quero saber.
Nessa semana das mães desejo que possamos pintar mundos belos, reais e cheios de possibilidades para os nossos filhos. Mundos honestos: complexos, antagônicos, às vezes doloridos, mas cheios de amor e esperança. Para que saibam que darão conta, sim. E principalmente, para que saibam que estaremos sempre aqui, prontas, nesse lugar familiar de acolhimento incondicional e paz.