0

Funções de mãe

Ah, mães. Somos tantas coisas. Enfermeiras, motoristas, psicólogas, administradoras, conselheiras, professoras, fadas do dente (meu favorito!), gerenciadoras de crise, chefs de cozinha…

De todas as nossas maternas funções há uma que me assombra com o nível de sua responsabilidade. É uma função sutil, quase inconsciente, mas que está ativa o tempo todo: intérprete de realidade.

Basicamente, a tarefa (nada básica) de explicar o mundo para eles, de ensiná-los a olhar para a realidade, compreendê-la e saber reagir a ela através das ferramentas que lhes damos. Fácil né?

Interpretamos o mundo para eles desde que são bebês. Por exemplo: Um bebê que, começando a andar, tropeça e cai, antes de chorar, olha para a mãe em busca de amparo. Nesse olhar, a pergunta invisível: O que acaba de acontecer? Devo chorar? Deixo passar? Desisto de tentar andar? COMO reagir?

Somos o filtro. O espelho. Através de nossas próprias reações, dizemos a eles a todo momento: você é indefeso. Ou você é capaz. Você é importante. Você dá conta. Ou não…

Pintamos mundos cor de rosa, pontuados por bondade e gratidão. Ou mundos assombrados pelo medo e insegurança. Mundos ressentidos, mundos cheios de dor, mundos acolhedores, fáceis, difíceis. Mundos otimistas, mundos pessimistas. Mundos calorosos ou cinzentos. Pintamos mundos que são uma miscelânea de tudo isso – como a vida.

E, de interpretação em interpretação, os ensinamos a pescar. Eles criam um repertório próprio e começam a interpretar sozinhos. No longo caminho da vida, encontram novos intérpretes: professores, amigos, influenciadores, ídolos. Mas a interpretação da mãe… ah, essa é única. É a primeira, a marcada a ferro e fogo, imune a mudança do tempo ou das estações. Ela fica até o fim – ou até a terapia na vida adulta começar a fazer efeito 🙂

Talvez a interpretação da mãe tenha uma validade eterna. Até hoje, de vez em quando me pego ligando para minha mãe para perguntar o que ela acha de certa situação. Ou o que faria. Nem sempre a escuto, confesso. Mas muitas vezes quero saber.

Nessa semana das mães desejo que possamos pintar mundos belos, reais e cheios de possibilidades para os nossos filhos. Mundos honestos: complexos, antagônicos, às vezes doloridos, mas cheios de amor e esperança. Para que saibam que darão conta, sim. E principalmente, para que saibam que estaremos sempre aqui, prontas, nesse lugar familiar de acolhimento incondicional e paz.

0

Frescobol

Nesse fim de semana decidi aceitar um convite pra jogar frescobol na praia – depois de meses (ou seriam anos??) sem jogar. Eu com minha filha de dez anos – duas Gustavo Kuerten, como vocês podem imaginar. Pra quem não sabe, estou grávida. De sete meses. (Pois é! Mas isso é história pra outro post). Então, de fato, faz um BOM tempo que não me aventuro nesses esportes radicais. 

Ultimamente, estou tão preguiçosa que quando eles me pedem pra brincar de alguma coisa, eu me desvencilho do pedido, em geral com a máxima:

(Dica: esse tipo de resposta não surte o efeito desejado. Não é porque você a lembrou de que ela tem irmãos que ela vai dizer “Nossa, verdade, esqueci! Que bom que você me lembrou, vou lá então brincar com ele”. Pode até dar certo uma ou duas vezes, mas seu uso excessivo, como tudo na vida, desgasta.) 

Por fim, não sei se movida pela culpa ou pela saudade de jogar frescobol (o que, na boa, levando em conta minha atual forma física, duvido muito. Desculpe ao esquadrão anti-culpa de plantão, mas hoje vou ter que ficar com a culpa mesmo) aceitei o convite.

Em troca, ela me olha com os olhos arregalados de surpresa e a indagação: 

ELA: VAI MESMO? 

EU: vou, ué. Eu sou muuuito boa nesse jogo. 

ELA (com sorriso de orelha a orelha – o que dói um pouco… é tão fácil fazer eles felizes): Eu também!! 

(Na real: nem eu nem ela somos muito boas nisso. Mas quem se importa?)

Algumas coisas que aprendi nesse jogo: 

1- Dá pra saber muito sobre uma pessoa pelo modo como ela joga. Se ela é competitiva, se age como se estivesse indo pra guerra, se ela é doce, se é empática, se está mais preocupada em fazer o jogo ser legal do que em efetivamente vencer.

2- Nosso máximo de pontuação sem deixar a bola rolar a esmo praia afora foi 20. VINTE. Com dificuldade.

3- Mais da metade do nosso jogo consistia em sair correndo loucamente atrás da bolinha antes de acertar algum banhista desavisado ou se perder na imensidão do mar azul. 

4- Enquanto uma dupla normal jogando frescobol ocupa apenas um perímetro horizontal na praia, a nossa bolinha insistia em fazer os mais criativos e rebuscados caminhos. Então nosso perímetro de jogo era algo assim: 

5- Isso fazia com que os passantes ficassem com medo de passar perto de nós. 

6-  Tudo bem fazer coisas em que a gente é muito ruim. No máximo, serão momentos conexão, queima de calorias e risadas. E quem não precisa disso na vida? 

(Em tempo: todos os banhistas sobreviveram.)

0

Óleos Essenciais?

Faz já um tempo que ouço o pessoal falar dos óleos essenciais. Que te dão energia, te ajudam a relaxar, a ter uma vida incrível. Que maravilha! Um milagre embalado num frasquinho de 10 ml. Parece coisa de outro mundo. A resposta para todo os meus problemas está nos óleos essenciais, claramente.

Eis que outra tarde no shopping, passo por um quiosque desses que ficam no meio do corredor. Ele é uma verdadeira visão de paz e equilíbrio em meio as lojas hiper iluminadas e estimulantes. Um canto tranquilo, com vapores saindo e luzes calmantes. O cheirinho que exala é tão delicado, e a vendedora tem a cara de plenitude. Sabe, aquele brilho no olhar, aquelas feições radiantes, um cabelo brilhante?

Me sinto um caco só de olhar pra ela. Ela com certeza sabe de algo que eu não sei.

“Olha, o de lavanda faz muito sucesso… e tem vários benefícios. Cicatriza, desinfeta, acalma, ajuda a dormir…”

Opa. Tô super precisando dormir melhor. Não amo lavanda, mas também não odeio. Vamos de lavanda. 

Paguei o tal do óleo e saí do shopping plena, com minha sacola zen prometendo a melhor noite de sono que eu teria em anos / desde que me tornei mãe. Só de comprá-lo eu já me sinto mais calma e animada pra hora de dormir. 

À noite, depois do jantar, do banho, da escovação de dentes e toda a rotina noturna (onde eles ainda insistem em perguntar, TODO SANTO DIA, se hoje precisam tomar banho, se hoje precisam escovar os dentes. É como se a pergunta fizesse parte da rotina), eu anuncio:

As meninas estão curiosas, Simon me olha com aquele tom de quem não põe muita fé, como quem diz “O que será que minha mãe, dinossaura, pré histórica, inventou agora?” 

(Se tivesse um museu sobre maternidade, essa seria a frase).

Plena, tiro da minha sacolinha o óleo de lavanda como se ele fosse um troféu. “TCHANAN!!!”

“O que é isso?” Stella pergunta. 

Faço a minha melhor voz de pessoa-madura-que-sabe-da-vida: 

Stella é a primeira a estender o pulso. Adora experimentar coisas novas, principalmente se for um cosmético cheirosinho. 

Lea vem em seguida.

Simon segue me olhando desconfiado. Por fim, consigo convencê-lo de que não é magia negra (!) e ele topa usar. 

“Pronto, agora esfrega um pulso no outro e deixa fazer efeito” 

É uma farra, as duas cheiram o pulso, mostram pro pai, deitam na cama super animadas. Tô positiva de que vai ser a melhor invenção que eu já trouxe pra casa. 

(Tá, na verdade eu não sei se vai funcionar 100%, mas só pela farra e pela experiência sensorial terapêutica, já tá valendo)

Mais tarde, Simon fica me zoando:

Haha. Muito engraçado.

Reviro os olhos e explico que vai melhorar a qualidade do sono dele, que não é uma poção mágica que funciona na hora. Eventualmente ele também vai pra cama e dorme o doce sono dos justos. 

Eu vou me deitar pensativa… Não entendo muito sobre óleos essenciais e seu poder de cura. Talvez seja o óleo misturado com a vontade de fazer dar certo. Talvez o essencial primordial seja acreditar. Porque quem acredita carrega uma dose de leveza no coração (e cá entre nós… quem não precisa de uma dose de leveza no coração?)

Talvez essa seja uma das verdadeiras forças do óleo essencial: ter esperança. Esperança de uma boa noite de sono. Esperança de que existem pequenos milagres embalados em vidrinhos com tampas coloridas. Esperança de ter fé. E esperança de unir as crianças num banheiro apertado no final de um dia corrido, todos torcendo para que a compra inusitada da mamãe dê certo. 

As vezes, tudo o que a gente precisa é mesmo do essencial 🙂

2

Levando na escola. Ou: as despedidas de todo dia

É uma verdade universalmente conhecida que a gente cria o filho para o mundo. Célebre frase, provavelmente dita para uma mãe aos prantos testemunhando o filho sair das fraldas, aprender a andar, ou pedir pra não ganhar beijo na porta da escola. 

Pois é. Sabe aqueles pacotinhos de 3 kg que você carregou com tanto amor? Breaking news: eles vão embora. Não são são nossos. Não… São do mundo. Da vida. Do universo. 

São deles mesmos. 

Toda mãe sabe disso, claro. As vezes a gente esquece, mas aí a vida manda um gatilho pra lembrar. Em algum momento ele diz que quer ficar um pouco sozinho (lembra quando tudo o que você queria era que ele ficasse brincando sozinho pra você poder fazer suas coisas?) Ou ele diz que não vai jantar em casa porque tem pizzada com os amigos. Ou ela aprende a ir ao banheiro sozinha – se limpar, lavar a mão E dar descarga. Pode ficar orgulhosa, mamãe!

Pois bem.

Outro dia estava deixando os três na escola e percebi a gritante diferença com que eles me dizem tchau.

Vamos lá:

Simon, de 13 anos:

A primeira vez que ele pediu isso, doeu. Hoje já está mais calejado. Aliás, virou rotina. Diz ele que é para “eu não precisar dar a volta” e para “ele chegar mais rápido”. Tudo bem então. Faz parte. Respeito a fase em que ele está.

(Mas não se engane – eu não deixo de abrir a janela e dizer alto: BOA AULA FILHOO – mãe mico tá on PRA SEMPRE)

Stella, de 10 anos:

Ela faz uma cara séria, de quem acabou de sair de uma reunião de negócios, e diz um solene “tchau” enquanto sai do carro. 

Ninguém diz que estávamos cantando e dançando POP HITS 2023, enquanto comemos sucrilhos e falando besteira. Ela sai apressada, como se vivesse ocupada demais.

Por fim, a pequena. Lea, de 6 anos. Ah, que coisa boa que é uma criança de seis anos :))

Devagarzinho ela sai do carro, pega a mochila de rodinhas (que tem praticamente o tamanho dela – mas ela ama, fazer o quê) e grita, lá de fora, em alto e bom som, na frente de todas as amigas, mães, e seguranças da escola:

Derretida, abro a janela e grito de volta, é claro. Uma despedida digna de filme, como se eu estivesse para iniciar uma expedição para a lua, ou uma viagem de volta ao mundo.

E isso acontece todo. Santo. Dia.

Quando saio, o coração aperta. Sei que não vai durar pra sempre. Já sei como funcionam as coisas. Logo logo acaba. Num piscar de olhos, num virar de esquina, numa manhã chuvosa e desavisada…

Que seja eterno enquanto dure 🤍

1

Arrumando as maquiagens

Começou com uma pergunta inocente (porém duvidosa): 

“Mãe, posso arrumar suas maquiagens?”

Quem quer saber é Stella, minha filha de 9 anos. 

Olha, se você é mulher você sabe o que a sua maquiagem significa pra você. É aquele pequeno tesouro escondido no seu armário do banheiro que é capaz de transformar um dia ruim num dia menos-pior. Carrega em seu cerne o superpoder de fazer você gostar um pouquinho mais de si mesma, de se sentir um tiquinho mais bela. É o seu porto seguro para os dias de TPM, de cabelo ruim, de espinha que brota do nada…

Ah, nossas maquiagens… já nos acompanharam por tanto.

E, sejamos sinceras, você investiu uma pequena fortuna nelas. 

Então quando Stella vem com essa proposta indecente, a minha primeira reação é dizer:

“é claro que não, se você quiser arrumar alguma coisa, que tal o lego da sala?”

Mas ela me olha com um rostinho angelical e eu dobro a língua. Convenhamos, ela tem quase dez anos, já carrega uma dose de responsabilidade. Já sabe fazer ovo mexido e brownie. Já sabe cuidar da irmã. E já tem coordenação motora o suficiente pra brincar com meu frágeis frasquinhos de make. Em alguns anos ela inclusive estará fazendo o uso desse meu pequeno tesouro (socorro, tempo, vai mais devagar)

Lea, de 5, não me convence muito. Mas fazer o quê? Decido dar o benefício da dúvida para as duas. Não é mais como se elas tivessem 2 anos de idade, que gostavam de comer meu batom, se banhar em perfume e pintar as paredes com as minhas sombras. Respondo:

Lanço para a Stella um olhar cúmplice e ela já entendeu. Vai ficar de olho na irmã.

As duas saem correndo em direção ao meu banheiro. Sua alegria me contagia e de repente estou animada! Oras, o que pode dar errado?

Alguns minutos depois elas me aparecem: 

Isso é um rímel (ou máscara de cilios) lindo e chiquérrimo da Lâncome que comprei há uns – juro – sete

anos e devo ter usado duas  vezes na vida… três no máximo. Por que a gente faz isso? Compra as coisas e depois fica economizando até que ela estraga para todo o sempre?

Mas o rímel é só o primeiro item da vasta lista de coisas que elas vão me trazer nos minutos seguintes. Elas trazem paletas de sombras que eu um dia comprei (me vislumbrando como uma estrela de cinema cool e interessante) e, óbvio, nunca usei. 

Elas me trazem também coisas com nomes gringos como primers, bronzers e curvex (“mãe isso é pra quê? Pra fazer cirurgia?”) além de hidratantes faciais, bases e batons vermelhos 24 horas – coisas que eu já usei um dia, muito tempo atrás, no chamado “velho normal”. Elas se animam com a quantidade de itens que estão fora de uso, e logo vem os fatídicos: 

Num misto de nostalgia e desapego, acabo dando de presente para elas alguns itens que já sei que não vou mais usar porque, em algum momento nos últimos dois anos, deixaram de combinar comigo. Estranha a vida né? 

Elas ficam extasiadas com os presentes e, enquanto organizam as minhas maquiagens, montam também um kit para si. Me pergunto se esse era um dos objetivos da coisa toda. Talvez. Prefiro apenas imaginar. 

Mais tarde, depois de um tempo sem receber visita delas na sala, vou até o banheiro para ver se está tudo bem: 

E eu, crente que estou passando um estilo de vida clean e minimalista pra elas… (nota mental: não deixar coisas inúteis* se acumularem. *lembrando queinútil’ é um conceito relativo.)

“Ficou lindo Teté!” exclama a pequena, que ainda fica absolutamente maravilhada com tudo que acontece ao seu redor.

Stella responde, cética: 

Nem minha filha bota fé em mim!

Não sei se me sinto ultrajada ou se rio…

As vezes acha que as coisas passam despercebidas e quando a gente vai ver, tá todo mundo sabendo de tudo. (Sinceramente, eu culpo o signo. Taurinos são universalmente conhecidos pela incapacidade de organização.)

Enfim. Foi um dia animado. Acabamos com uma caixa de maquiagens arrumada, alguns presentes distribuídos, e certas verdades reveladas.

1

Guia rápido de fazer mala

Viajar é sempre tão bom! As memórias, o tempo junto, a distância de casa sempre faz a gente olhar para a nossa vida com uma nova perspectiva.

Mas se tem uma coisa que eu realmente não sou boa em fazer é a tal da mala. 

Comecemos com um fato irrevogável da maternidade: quanto menor for a criança, mais tralha você terá pra levar. A mala de um bebê de três meses, por exemplo, é muito maior que a mala de uma criança de 4 anos.

A de um recém nascido, então? Você desiste de viajar. 

Bom, hoje os meus estão até grandinhos, mas mesmo assim, a mala segue sendo o maior desafio da viagem. Como saber ao certo o que levar? E se levar roupa demais? Não dá pra carregar peso a toa. E se faltar roupa? E se esfriar muito? 

Enfim, um passo a passo de como é fazer a mala aqui em casa: 

1. Espere até o último momento pra começar a mala.

Este ponto é crucial. É quase cientificamente comprovado: quem deixa a mala pra última hora tem uma viagem mais animada.

2- Coloque uma playlist de sua preferência (gaste uns 10 minutos para escolher qual será a playlist).

Não subestime o poder de uma boa trilha sonora para esse momento.

3- Comece pela mala das crianças

Geralmente a mala que você faz primeiro é a que tem mais chances de não ter coisa esquecida. Por que? Porque a gente começa essa tarefa focados. No começo estamos 100% lá, concentrados nessa árdua missão de escolher as roupas que irão acompanhar-nos nessa jornada viajante.

4- Distraia-se com o seu celular e esqueça da existência da mala. Quem nunca? É mensagem, é email, é meme que vai chegando… É a falta de foco que acomete o cidadão do século XXI. 

5- E finalmente quando você consegue voltar a atenção para a mala, as crianças começam a brigar e você precisa ir resolver 

D’us abençoe a mãe que está sempre separando briga.

6- Nisso, sua filha pequena decidiu fazer a própria mala. 

E colocou todos os bichinhos de pelúcia da casa dentro 

É difícil compreender o que é prioridade para o outro. 

Para mim UM bichinho de pelúcia tá de ótimo tamanho,  mas pra ela, precisa de 10. As vezes algo que pra mim é totalmente inútil, pra ela significa o mundo. 

O jeito é partir para uma negociação justa e honesta. 

7- Depois de conseguir convencer a pequena de que apenas um ou dois bichinhos já bastam (“NÃO BASTAM NÃO COITADOS ELES VAO FICAR COM SAUDADES DE MIM”) a gente volta a focar em terminar a mala. 

E quando você finalmente está fechando…

“MÃE VOCÊ TÁ LEVANDO O MEU _____________ ” (complete com o item de necessidade absoluta) 

Aqui varia. As vezes é livro, kit de lettering, pijama do pinguim, calção de banho verde, pasta de melancia.

Obviamente você não está levando justo aquele item, então vamos a caça ao item. 

8- Eventualmente você vai acabar de separar todos os itens necessários de todos os integrantes da viagem. Agora? Só colocar tudo dentro! A famosa Arte do Fazer Caber. 

9- Chegando ao seu destino, você desfaz a mala e, maravilhada, descobre que não esqueceu nenhuma roupa de ninguém! 

Só o seu pijama 

Ah, que saudade que bate do pijama, essa invenção do homem moderno para o fim do dia cansativo. Coisa boa… 

Boa volta de feriado a todos! 

1

A mãe mico

Este não é um texto sobre macacos da fauna brasileira em extinção. Poderia ser, mas não. 

É sobre mães e os limites que nossos pré-adolescentes nos pedem para acatar. E sobre a nossa dificuldade em respeitar esses limites.

É sobre a linha tênue que existe entre um mico e uma mãe preocupada.

Tudo começou alguns anos atrás quando ele não quis mais que eu desse beijo nele na frente dos amigos. Até aí tudo bem… O problema é que as coisas foram evoluindo, e hoje tem uma pequena lista de itens que ele não gosta que eu faça, como:

Talvez tudo isso pareça óbvio pra você. Eu mesma, antes de ter um filho de doze anos, achava tudo isso um baita exagero. 

‘Que rídiculo’, eu pensava, ‘o meu filho vai me amar tanto que não vai se importar com essas bobagens. E meu bom senso é tão afiado que eu vou captar quando ele estiver se sentindo desconfortável. Óbvio. Jamais serei uma mãe mico.’

Ah, que gracinha essa ingenuidade. Quase tenho vontade de pegar aquela Débora no colo e dar um abraço. 

Mães de crianças mais velhas: desculpe por não ter acreditado em vocês. Vocês tinham razão. 

Mães de crianças menores: espero que seu bom senso seja mais apurado do que o meu (e olha que me considero uma pessoa até bastante sensata).

Bom, o fato é que essa semana Simon adicionou um novo item à lista… vamos lá:

Era seu primeiro dia da aula de natação. Veja bem, primeiro dia. Ou seja, eu entrei com ele na escola, apresentei para o professor, assisti uns 10 min de aula. Mostrei o vestiário masculino. Sabe? Me certifiquei de que ele estava bem situado na nova rotina. Que estava se sentindo seguro e a vontade.

Pois bem. Quando acabou a aula, ele entrou no carro, olhou para mim com um ar muito sério e disse: 

“Mãe, preciso te pedir uma coisa”

“Claro, meu amor. Fala”

E então ele me solta: 

Olho pra ele incrédula. Um filho pode pedir isso para uma mãe? Ele tem esse direito, alguém sabe me dizer? Esse é um mico classificável para a lista de micos proibidos? 

Quero dizer, você já leu jornal. Você sabe o que pode acontecer com crianças pequenas num banheiro masculino caso um mau elemento entre com ela ali.

Naquele dia, quando mostrei onde era o vestiário masculino, ele demorou um pouco pra sair. Depois de uns dois minutos que ele estava lá dentro, colei na porta e comecei a berrar: 

Eu sei, eu sei. Palmas pra mim. Mas em minha defesa: quanto tempo ele demora pra colocar uma sunga, pelo amor divino? 

Você me entende? Não tem como eu levar meu filho de doze anos – quase um metro e sessenta de altura – comigo no banheiro feminino pra sempre. 

Tenho vontade de fazê-lo? Tenho. Ficaria mais calma? Com certeza. Mas não dá, uma hora eles ficam grandes demais. Tem que soltar no mundo e confiar. 

E aí é rezar pra dar certo mesmo. Aceitar até onde vai o nosso controle, e torcer para que nada de ruim aconteça.

Uma vez paguei esse mico num parque aqui de SP. Simon foi ao banheiro, e lá fiquei eu de tocaia na porta, encarando com os olhos desconfiados todo mundo que entrava e saía.

Em determinado momento comecei a berrar chamá-lo. Foi quando um homem saiu do banheiro, olhou pra mim e disse “Se você não gosta, leva ele no feminino. Pô.” 

PÔ! Não preciso dizer que não foi algo muito inteligente a se dizer para uma mãe preocupada. Desculpa aí atrapalhar o seu xixi, amigo, mas por acaso você tem filhos, ?  

Coitado do homem. Aliás, se você for homem e estiver lendo isso aqui, dá um desconto para as mães que ficam agoniadas na porta do banheiro. Mãe é mãe, por mais descolada, sensata, bacaninha que ela acredite que seja.



No fim deu tudo certo, ele se desculpou, eu me desculpei, e Simon esperou o homem ir embora pra aparecer, roxo de vergonha. #arraseinomico 

A vontade de segurar de baixo da asa é muito grande, mas preciso deixar ele criar as suas próprias e voar pelo mundo. A mim, resta orientar sempre.

Ensinar a se posicionar. A confiar no seu instinto – se sentir que tem algo de errado, que saiba sair imediatamente. Devo ensiná-lo a honrar os seus limites, e que ninguém pode tocar em suas partes. Que infelizmente existe maldade no mundo e que devemos nos proteger dela. É… algumas coisas precisam ser ditas, por mais difícil que pareçam. 

No mais, posso rezar para que as pessoas que cruzem seu caminho sejam boas. 

No fim, com o coração meio apertado, prometi para o Simon que iria tentar. Ele agradeceu, satisfeito. Seguimos para casa, enquanto ele me contava tudo o que aprendeu no primeiro dia de natação…

1

Caranguejos ao por do sol

Ela passou o dia quieta.
Os primos e irmãos na maior farra, e ela ausente, meio cansada, triste. Filha, vai brincar, eu dizia. “Não quero.”


“Aproveita a o dia, o sol, a piscina, a companhia. Aproveita todo mundo! Depois a gente vai embora…” Insisto.


“Não quero mãe, para!” Sentada, de braços cruzados, rosto caído, olhos irritados, cansada da vida. Dou um suspiro fundo.


“Você brigou com alguém?” Não.
“Alguém te falou alguma coisa chata?” Não.
“ Você quer me contar alguma coisa?” NÃO (irritadiço)

Nove anos de idade. Me pergunto se são os hormônios. Se é a idade. Se é cansaço do feriado – afinal, estão dormindo tarde e acordando cedo.
Não sei onde dói. As vezes nem eles sabem.


Tenho vontade de confrontar. De dizer para ela parar de ser teimosa e ir curtir. “Olha que dia lindo. Olha o sol. Olha o mar! E você reclamando desse jeito, que vergonha!!”
Mas já tentei isso mais cedo – e foi um fiasco.

Então convido: “Filha, vamos lá na praia ver o pôr do sol? Só nos duas.”
Sei que colo de mãe é sagrado e cura até dor no coração. Mas como se dá colo para sua filha de nove anos que já não cabe no colo?
Tempo juntas.
“Não quero”, ela diz, cortante.


Respiro fundo.
“Vai ser legal! A gente vai até a beira da água, molha os pés, e volta”
Agora é a vez dela respirar fundo.
“Tá booom” ela cede, cada sílaba forçando seu caminho pra fora da boca. Um favor concedido a mim.

Descemos na areia, molhamos os pés. No começo ela segue distante, monossilábica. Mas em poucos minutos o mar parece que passa cola na gente. Caminhamos com os pés imersos e conversamos. De repente ela está rindo, entregue.


“MÃE, UM CARAMUJO ENTRANDO NA CONCHA, OLHA!” Exclama, empolgada. É caramujo o nome? Nem sei. Molusco? Entrega? Infância? Paz?


“Olha mãe UM CARANGUEJO DE VERDADE” sua euforia transborda. Corremos atrás do caranguejo, que se enterra na areia em segundos. Celebramos esse pequeno milagre, um presente da natureza.

Sua alegria não cabe em si.
Como o mar, ela flui.

O sol começa a desaparecer e a praia fica escura. É difícil enxergar. Mas seu sorriso ilumina tudo quando ela passa os braços em volta da minha cintura e diz, baixinho:

“Mamãe, eu te amo.”

Eu também, filha.

Eu também.

1

Sobre o dia em que um lutador de boxe veio para o jantar

“Dé, um amigo meu vem jantar em casa hoje, tá?” O Dani me avisa.

“Legal! Que amigo?” – pergunto, terminando de digitar um e-mail.

“Um amigo meu da escola… ele tá aqui no Brasil e mandou mensagem no grupo da classe. Falei que podia vir aqui e ele vem.”

Não estava contando com mais alguém para jantar, mas visitas são sempre bem vindas, certo? Coloca mais água no feijão, faz uma saladinha, esquenta uns pãezinhos e serve com patê… É couvert que chama, né? #muitochique

“O Peter é campeão internacional de kickboxing. Olha crianças!” Diz o Dani, mostrando um vídeo em que o nosso novo convidado aparece lutando com um adversário alemão.

Traumatizante.

Um campeão de luta? Seria uma visita interessante. Talvez ele possa ensinar uns passos de artes marciais para as crianças. Talvez um pouco de auto defesa. As crianças se mostram ansiosas para conhecer alguém assim tão diferente – principalmente Simon.

Bom, eis que pontualmente as 19h30 toca a campainha. Eu não escuto, porque estou no banheiro berrando lutando para pentear o cabelo da minha filha de 4 anos (por que elas odeiam pentear o cabelo? Coloco um monte de creme de pentear, sou paciente e delicada. Mas mesmo assim é uma luta)

Quando chego na sala (morrendo de vergonha. Berros são para serem ouvidos só entre os moradores da casa, e olhe lá. O ideal, ideal mesmo, seria não berrar. Mas ainda não atingi esse nível de plenitude) vejo sentado no sofá o rapaz que há 2 horas estava nocauteando um alemão na tela do celular.

Ele tem quase dois metros de altura, e com certeza consegue carregar a mesa inteira de jantar da mesma forma em que eu consigo carregar a travessa de carne com batatas. Me pergunto se a salada extra que e os pãezinhos vão dar conta do recado, e torço para que sim.

Não tem como fazer nada novo agora.

Vamos que vamos.

Ele tem uma voz alta e imperativa, mas é só passar alguns minutos na sua presença que a gente percebe… ele é puro coração.

As crianças não perdem tempo com a fazer perguntas, é óbvio:

Ele solta uma risada e diz que não, nunca.

Então ele olha para meu filho e diz:

Ele fala isso com um tom grave. Simon faz que sim com a cabeça. Ele sabe. Mas uma coisa é quando a mãe vive te explicando isso. Outra é quando um lutador profissional te explica.

Sentamos na mesa e ele conta como entrou nesse mundo da luta. Disse que foi descoberto por um olheiro numa briga de bar (onde para defender um amigo ele teve de brigar contra quatro caras de uma vez só – e ganhou de todos). Na época ele nem pensava em lutar profissionalmente, mas o olheiro insistiu. Pegou seu contato e ligou algumas vezes.

Então ele foi.

Ele conta para nós sobre sua rotina de treino (duas horas de manhã e duas horas no final do dia – totalizando QUATRO HORAS por dia, caso você não seja bom com números). E diz que quando era pequeno, acordava muito cedo e tinha tanta energia que a mãe dele colocou-o pra fazer natação todos os dias antes da escola.

Veja bem, antes da escola. As aulas de natação começavam as 6 horas da manhã. Mãe guerreira? A gente vê por aqui, com certeza absoluta.

Minha filha pergunta o que ele tem no rosto – uma espécie de cicatriz. E ele responde que o rosto dele “ficou assim” depois que ele quebrou a cara numa luta. Nunca conheci ninguém que literalmente quebrou a cara, e por um momento me dou conta do perigo que é a vida dele.

“Vocês fazem esporte?” Ele pergunta para as crianças.

Eles respondem que sim – um pouco tímidos, porque justamente naquela manhã estavam reclamando de que não queriam voltar para suas atividades extracurriculares.

“O esporte vai ajudar vocês a fortalecerem não o seu corpo, mas também a sua mente e seu espírito”

Peter olha para mim e para o Dani em busca de ajuda. É um tema um tanto complexo para explicar para uma criança pequena.

Respondo que é sua alma. Sua essência. A parte mais espiritualizada do nosso ser – que não é formado só pelo nosso corpo e e nossa mente, como também por essa terceira parte, a mais importante. Eles escutam em silêncio.

De sobremesa, cortei algumas frutas e fiz um brownie de chocolate (sem nozes! Por favor, parem de fazer isso com os brownies). Depois de muita risada e bate papo, ele agradeceu e disse que precisava ir.

Deu tudo certo (a comida foi suficiente, amigas!) e agora as crianças acordaram animadas para retomar suas atividades extracurriculares.

Obrigada Peter, por incentivá-los a fazer esporte! E por ajudar a ensinar a eles que nem só de corpo e intelecto é feito o homem.

(ps: desculpe por te desenhar parecido com o Johnny Bravo. Minhas habilidades de ilustração são um tanto limitadas).