Levando na escola. Ou: as despedidas de todo dia

É uma verdade universalmente conhecida que a gente cria o filho para o mundo. Célebre frase, provavelmente dita para uma mãe aos prantos testemunhando o filho sair das fraldas, aprender a andar, ou pedir pra não ganhar beijo na porta da escola. 

Pois é. Sabe aqueles pacotinhos de 3 kg que você carregou com tanto amor? Breaking news: eles vão embora. Não são são nossos. Não… São do mundo. Da vida. Do universo. 

São deles mesmos. 

Toda mãe sabe disso, claro. As vezes a gente esquece, mas aí a vida manda um gatilho pra lembrar. Em algum momento ele diz que quer ficar um pouco sozinho (lembra quando tudo o que você queria era que ele ficasse brincando sozinho pra você poder fazer suas coisas?) Ou ele diz que não vai jantar em casa porque tem pizzada com os amigos. Ou ela aprende a ir ao banheiro sozinha – se limpar, lavar a mão E dar descarga. Pode ficar orgulhosa, mamãe!

Pois bem.

Outro dia estava deixando os três na escola e percebi a gritante diferença com que eles me dizem tchau.

Vamos lá:

Simon, de 13 anos:

A primeira vez que ele pediu isso, doeu. Hoje já está mais calejado. Aliás, virou rotina. Diz ele que é para “eu não precisar dar a volta” e para “ele chegar mais rápido”. Tudo bem então. Faz parte. Respeito a fase em que ele está.

(Mas não se engane – eu não deixo de abrir a janela e dizer alto: BOA AULA FILHOO – mãe mico tá on PRA SEMPRE)

Stella, de 10 anos:

Ela faz uma cara séria, de quem acabou de sair de uma reunião de negócios, e diz um solene “tchau” enquanto sai do carro. 

Ninguém diz que estávamos cantando e dançando POP HITS 2023, enquanto comemos sucrilhos e falando besteira. Ela sai apressada, como se vivesse ocupada demais.

Por fim, a pequena. Lea, de 6 anos. Ah, que coisa boa que é uma criança de seis anos :))

Devagarzinho ela sai do carro, pega a mochila de rodinhas (que tem praticamente o tamanho dela – mas ela ama, fazer o quê) e grita, lá de fora, em alto e bom som, na frente de todas as amigas, mães, e seguranças da escola:

Derretida, abro a janela e grito de volta, é claro. Uma despedida digna de filme, como se eu estivesse para iniciar uma expedição para a lua, ou uma viagem de volta ao mundo.

E isso acontece todo. Santo. Dia.

Quando saio, o coração aperta. Sei que não vai durar pra sempre. Já sei como funcionam as coisas. Logo logo acaba. Num piscar de olhos, num virar de esquina, numa manhã chuvosa e desavisada…

Que seja eterno enquanto dure 🤍

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