Doces na escola. Ou sobre como as coisas são e como deveriam ser.

Em todo lugar há regras.

E nós, como seres humanos do bem e civilizados, temos de segui-las, certo? Seja na vida, no mundo, no trabalho, entre família ou amigos.

Na escola dos meus filhos, por exemplo, há uma porção de regras. Não pode levar doces. Nem celular ou videogame. Não pode ir sem uniforme. Não pode “vender coisas”, ou chegar atrasado.

Eu, como mãe, faço o que está dentro do meu alcance para as crianças se manterem “dentro da lei”. Por exemplo, organizo para os uniformes estarem sempre à mão, e me responsabilizo pela gritaria correria de todas as manhãs para eles chegarem cedo na aula.

É um momento bem tranquilo do dia, onde tenho tudo sob controle:

(Sim meu filho é a personificação da desordem. Tadinho, puxou a mãe.)

Mas, milagrosamente, conseguimos chegar à tempo quase todo dia.

No entanto, há algumas coisas que fogem do meu controle. Por exemplo, a última moda na turma do meu filho (de nove anos) é levar mercadorias para vender na escola entre amigos. Mais especificamente, balas e pirulitos – pirulitos que viram chiclete valem mais. Também há vendas ilícitas de cards de Pokémon. De folhas de papel A4 (10 por 1 real), de figurinhas da Copa (se não é da copa do mundo, é da Copa América. Se não é copa América, é copa feminina, senão é Champions League.. Enfim. É um negócio sem fim.)

Numa rápida pesquisa sobre essas vendas, descobri que elas são sazonais e ocorrem apenas enquanto durarem os estoques. Ou seja, hoje o Gabriel* vende balas porque a tia deu pra ele um pacote no fim de semana. E o Pedrinho* vende figurinhas porque completou o álbum e sobraram muitas.

Enfim. O giro é rápido.

Naturalmente, meu filho queria participar desse mercado negro comércio interno, e eu, naturalmente, sentei e expliquei para ele que era proibido na escola. Argumentei que crianças lidando com dinheiro e mercadorias podia gerar confusão. Falei que esta prática fere dois itens da legislação do colégio: o que proíbe levar doces E o que proíbe vender coisas. Confere ao marginal praticamente uma pena de prisão perpétua.

E então ele me disse: 

Respondi que ele não é todo mundo (clássico, bingo pra mim). Que o que certo é certo. Que a gente tem que sempre seguir as leis, fazer o que é correto. Etc. Tentei botar moral no pedaço, sabe?

Mas mesmo depois de toda a conversa ele quis porque quis participar da economia escolar e, eventualmente, acabou tendo o seu momento de vender pirulitos que ganhou da avó (contra a minha vontade e ‘escondido de mim’)

Decidi deixar por conta da escola, afinal uma mãe precisa escolher suas batalhas.

O problema piorou quando minha filha de seis anos decidiu também entrar nessa onda. Antes, quando eu dizia para ela não levar doces na escola, ela obedecia. Mas essa semana no carro a caminho do colégio percebo que ela tem um pacote de balas na mão. Que ela ganhou – adivinha – da avó.

EU com voz acusadora: Filha, aonde que você vai com essas balas? (Me sentindo o próprio Lobo Mau para Chapeuzinho Vermelho)

FILHA: Ué, vou trocar com minhas amigas. Todas levam bala pra trocar.

EU: Trocar?

FILHA: É, trocar.

Na minha época trocávamos papéis de carta e selinhos.

Bom, mas pelo menos elas não vão vender.

EU:  Mas filha isso aí não é proibido pela escola? Não pode dar confusão?

FILHA: Não mãe. É tudo combinado: por exemplo, uma bala grande vale duas pequenas. Um pirulito também, porque dura mais.

Oras, até que elas são organizadas. Existem leis entre os fora da lei, afinal.

EU: Mas filha, não é proibido levar bala na escola??

Me deu um beijo e foi para o seu dia, deixando essa mãe que vos escreve um tanto estarrecida, pensando… será que não é cedo para eles descobrirem que nem sempre as coisas são como deveriam ser?

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* Todos os nomes deste texto foram alterados para preservar a identidade dos fora da lei personagens

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