O que o seu carro diz sobre você?

Eis que o carro quebrou. Foi assim, uma bela manhã:

“Mãe, que barulho é esse?”

“Não sei.. estranho né?”

Entramos no carro e… parece que estamos nas cataratas do iguaçu. Há um suave som de água jorrando, mas é só o som mesmo. Não consigo localizar a água.

Confesso que é um som relaxante (principalmente se você considerar a zona de guerra que é meu carro – spotify a todo volume, crianças conversando entre si, um brigando com o outro por espaço e atenção. (Regra universal sobre filhos: todos querem ser ouvidos, ao mesmo tempo, o tempo todo.)

Após um exame apressado, percebo que o tapete do carona está simplesmente encharcado.

Solução? Sentar e chorar ligar para o mecânico, o Eduardo, que sempre salva o rolê.

“Xii.. melhor trazer aqui..” Eduardo diz, preocupado.

Levo o carro no dia seguinte. Nos despedimos dele como se fosse um membro querido da família embarcando numa longa jornada.

Mais tarde, Eduardo me manda um áudio

(adoro pessoas que usam o whatsapp em vez de ligar. Você não? Gente do século XXI!)

Ele me explica o plano de ação. Acato – afinal, não entendo nada de carro. Se ele disser que vai precisar revestir o carro de rosa pink, eu acredito.

Todos os dias ele manda vídeos com as notícias. As crianças ficam em êxtase a cada vídeo. A remoção do porta luvas, UAU! A remoção do painel! A remoção do banco, IRADO! (De fato, há uma piscina embaixo dos bancos. Socorro!!.)

O mais… “inesperado” de tudo, são as coisas que ele encontra lá dentro… Pente de cabelo de Barbie, cartelas de adesivos, e – juro – um grão de milho que brotou. Nem lembro quem comeu milho lá, nem quando… só sei que, do nada, Eduardo me manda:

Realmente, não tem condição. Não sei nem o que responder pra ele. Só sei que o meu carro criou todo um ecossistema próprio!! Fala sério.

“Ah, é coisa das crianças, he-he” digo fingindo normalidade.

Em todo caso, alguns dias depois, o carro retorna ao lar, e é recebido como se fosse um familiar que acaba de voltar da guerra. Que emoção!

As crianças entram alvoroçadas, como se fosse a primeira vez – e de certa forma, é. Afinal, conhecemos partes muito íntimas do carro, até então desco-nhecidas. Muitos de seus segredos foram revelados.

No banco do carona, uma sacola preta. “Com todos os pertences que estavam no veículo” disse Eduardo. Agradeci, já morrendo de vergonha por antecipação, afinal, depois do milho, eu já não sei mais o que esperar.

“Filha, abre aí a sacola” peço, as mãos no volante, já saindo da garagem rumo à escola.

A sacola

Ela começa a rir enquanto anuncia os achados:

Meia barra de chocolate, um pacote de balas.

Um advil vencido

Uma pomada de corticoide que meses atrás eu precisava passar no pé do Simon 3x por dia

Dezenas de elásticos e prendedores de cabelo

”Meu óculos da American Girl!!” comemora a pe-quena, que estava atrás dele há tempos.

Bilhetes de escola (que eram pra ser assinados em novembro de 2022 (não me julguem)

kit de mini alcool em gel e mini protetor solar

1 óculos escuros meu que sumiu há tempos

Um leque (??). Uma tesoura de cozinha (???)

Uma meia preta. (A outra? Só Deus mesmo.)

Um celular velhinho (aqueles da nokia com jogo da cobrinha.) Estávamos procurando há meses.

duas caixas de papel yes pela metade

lápis de cor aleatórios

A cada item que ela tira da sacola os irmãos morrem de rir, tentando lembrar da ocasião do esquecimento. Não sei se choro ou rio junto, só consigo imaginar o pobre do Eduardo juntando a bagunça do meu carro. Socorro.

Sou um caso perdido? Deixo as crianças na escola e eles saem do carro ainda às gargalhadas.

Mais tade, já sozinha, vasculho os objetos na sacola.

De fato, são muitos. E completamente aleatórios. Tenho amigas que teriam um troço só de olhar… E sem dúvida levei o prêmio Mico do Ano da oficina! Apesar disso, é preciso reconhecer: sozinhos eles de fato são desconexos, mas juntos.. juntos eles contam um pouco sobre a nossa história.

Caótica, desorganizada, meio dramática. Mas sem dúvida, 100%… nossa. E isso é mágico 🙂

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(Abaixo deixo o vídeo do Eduardo. O tal do milho que brotou)

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