Meus filhos ultimamente têm brincado de um novo jogo, que eles chamam de “Vendedor”. O legal desse jogo é que você pode brincar em qualquer lugar. Em casa, no banho, no carro, na sala de espera do médico, etc. Consiste em fingir que você está comprando e vendendo coisas. Pode ser qualquer coisa, desde uma tampa de shampoo até um telefone ou uma poltrona.
Então ontem já era hora do banho e eles estavam no meio de um desses intermináveis jogos, negociando bravamente se um relógio do mickey que meu filho estava vendendo deveria custar cinquenta e nove, vinte um, ou três reais.
EU: Filhaaa! Vamos tomar o seu banho?
Hm.. eu diria que é uma gama de produtos bastante diversificada.
EU: Ah, oi vendedora. Quero comprar este óculos.. quanto custa?
FILHA: Custa três e novembro.
EU: hahahaha
(Provavelmente ela quis dizer noventa. Tudo hoje em dia tem o noventa no final, já reparou? Até minha filha de três anos reparou. Espertinho esse noventa, faz você achar que está pagando quase um real a menos do que está pagando na verdade…)
EU: Ah tá meio caro esse óculos, né… e a corujinha?
FILHA: Três e novembro.
Tudo nessa loja custa três e novembro.
EU: Tá legal, vou querer a coruja então. Tem troco pra vinte?
O ‘dinheiro’ nessa brincadeira são cartões de visita. Quer deixar os meus filhos felizes? Dá o seu cartão de visita pra eles. Se der um cartão pra cada um então, eles vão à loucura.
Peguei o meu troco e fui embora.
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Brincadeiras a parte, este jogo de vendedor me faz refletir sobre a sociedade de consumo em que nossas crianças estão crescendo e em quão insustentável ela é. Onde vai parar isso? Quantos brinquedos os seus filhos tem? Quanta tralha que você não usa há mais de um ano? A quantidade de coisas a venda que se esfrega na nossa cara todos os dias, as propagandas sem limites, os anúncios que nunca foram tão insistentes e semeiam lá no íntimo aquela urgência em comprar.. Como nossos filhos vão acabar saindo disso tudo? Para se pensar…
Adoro este blog! Deveria se tornar uma revista!
É muita necessidade fabricada…por isso Miguel só vê netflix e, quando muito, canais não infantis (Off, Globosat que tem umas paisagens bonitas etc), justamente para tentar reduzir a incidência de marketing na cabecinha dele 🙂 Vamos ver quanto tempo conseguirei manter esse caminho né? Obs: Grande vendedora sua filha em? 🙂