Era uma fria tarde de abril e a aula estava marcada para as 17hs. Eu levaria meus dois pequenos para aula de música. Meu filho entraria sozinho na turma de 3 anos, enquanto a bebê ficaria comigo na sala de bebês. Que delícia. Então 16:30h já comecei a levantar o acampamento, mesmo que moro a 3 quadras da escolinha de música. Afinal, tenho um carrinho de bebê e um menino de três anos para arrastar até lá e não deixar empacar no meio do caminho.
Meu filho, como qualquer menino de três anos, adora parar e comentar tudo o que chama a atenção dele enquanto andamos na rua (do “Mãe, olha que cocô de cachorro engraçado!” até “Olha!! Essa árvore tem flores vermelhas”). Tudo gera comentários curiosos e empolgados. Por isso uma simples caminhada de 5 minutos se transforma num longo percurso que pode durar meia hora. Mas ok, quando estou com paciência, é interessante escutá-lo e entender como o seu cérebro funciona.
Depois de trocar a fralda da bebê, mandar o meu filho fazer xixi, e me certificar que os dois estavam devidamente agasalhados e alimentados, pegamos o elevador.
FILHO: “Mãe, eu falei pra você que eu queria levar minha arca de noé para a aula de música” – Nem me dou o trabalho de perguntar como ele pretendia carregar aquela arca de madeira cheia de bichinhos e que deve pesar uns 5kg até a escola.
EU: “Ah meu amor, a mamãe esqueceu. Vamos indo e na volta você brinca com sua arca de Noé tá bom? Lá na aula tem muitos instrumentos que a tia vai te emprestar.” – Faço uma prece mental para tê-lo convencido. Meu argumento funcionou bem e ele seguiu em silêncio.
Andamos alguns minutos e meu filho já encontrou um galho caído no chão que instantaneamente se tornou sua mágica espada secreta. Bacana. Contanto que esteja segurando no carrinho – milagrosamente ele não reclamou hoje de ter que segurar no carrinho. Estávamos discutindo animadamente sobre o que o galho parecia (uma espada, um remo, uma colher de pau. Não filho, não se parece com um côco que cai da árvore pros macacos), quando passa um transeunte levando um cachorro na coleira. E não era um poodle pequenino, era um labrador enorme e com focinheira. Sem nem olhar pra mim, meu filho se dirige ao dono e pergunta:
FILHO: “Pode fazer carinho, moço?”
Por sorte, o tal moço era simpático e respondeu que sim, mas que teria de segurar o cachorro porque ele era meio nervoso. Minha vontade era de gritar “Filhoooo nãooo!!!” mas sei que não posso ser esse tipo de mãe, que devo incentivá-lo e não ensiná-lo a ter medo de tudo. Então, em vez de gritar eu fiquei estática, quase sem respirar, esperando meu filho passar sua pequena mãozinha naquele cão assassino.
Depois do carinho, meu filho saiu correndo feliz da vida pela calçada, enquanto eu me dividia entre agradecer o moço do cachorro e disparar atrás dele. Tudo isso com a bebê no carrinho – que adora ficar observando os passarinhos, os carros, os cãezinhos e, principalmente, o irmão. Meu filho deu início então à brincadeira do NÃO PODE PISAR NA LINHA. Que em 12 segundo se transformou em NÃO PODE PISAR NO QUADRADO MARROM e por fim, em NÃO PODE PISAR NA PARTE BRANCA.
Que bom, penso, estamos caminhando rapidamente. Desse jeito pode ser que até conseguiremos chegar à aula de música na hora certa. Mas de repente meu filho pára e pega do chão uma pinha. Daquelas pinhas secas que vivem caindo das árvores. Curioso, olha para o tal objeto, olha para cima e, ao concluir que ele deve ter caído da árvore, resolve que precisa devolvê-lo ali. E joga a pinha pra cima. Ela obviamente cai de volta no chão, e ele fica inquieto. Pega de novo e arremessa com mais força.
Considero se devo iniciar uma explicação sobre a lei da gravidade, mas no fim simplesmente falo:
EU: “Filho, deixa a pinha aqui do ladinho do tronco”
FILHO: “Por que mãe? Depois os esquilos vêm buscar?” – Sorrio pela inocência fofa dele e tenho vontade de perguntar ‘que esquilos meu filho?????????’. Mas em vez disso respondo “acho que sim! Vamos deixar aí e na volta da aula de música passamos para ver.”
Peguei a mão dele para atravessarmos a rua e finalmente chegamos à escola. Olho no relógio e são 17:07h. Perdemos o inicio da aula e a música do BOA TARDE COMO VAI VOCÊ. Como na semana passada. Droga. Novamente prometo a mim mesma que da próxima vez vou começar a levantar o acampamento as 16hs. Ou vir de carro.