É engraçado quantas histórias e diálogos começam na cozinha… Você já reparou? A hora de comer deve ser mesmo inspiradora.
Eu estava no fogão preparando o jantar quando minha pequena de dois anos apareceu animadamente com uma bala na mão.
Uma bala. Na hora do jantar.
Naturalmente, ela pergunta:
Seus olhos azuis me encaram profundamente, com toda a doçura do mundo. (Sabe, tipo cachorrinho abandonado?) Há uma bala tipo 7 belo na sua mãozinha estendida. É tão pequena e graciosa que dá vontade de falar: “Sim, é lógico que abro. Para você eu faço tudo, meu amor. Aliás, se você quiser a gente pode desencanar do jantar e sair agora mesmo comprar mais balas!! Vamos? Coloca um sapato e faz xixi! Partiu.”
Mas é óbvio que não digo isso. O modo mãe responsável e madura assume o comando e sou firme (com um toque de drama porque, né, senão não sou eu):
EU – Ai minha filha, aonde foi que você achou esta bala???? Agora não é hora de bala, né? É hora de jantar. Guarda para depois da janta, ok? Por favor.
E dando continuidade a meu papel de mãe adulta sensata, volto o foco para o meu brócolis refogando na panela.
Insistente, a pequena decide tentar a sorte com a irmã de seis anos – que estava ao meu lado num longuíssimo e detalhado relato sobre uma briga que rolou entre duas amigas hoje na escola.
FILHA MAIS VELHA (interrompendo o monólogo de duas horas relato): A mamãe falou que não pode.
UAU!! Estou chocada com minha moral!! “A mamãe falou que não pode!” Me sinto o poder em pessoa. A soberania da casa. Estou sem palavras, eu sabia que este dia ia chegar!
No entanto, a pequena, não contente com mais um não, decide tentar mais uma vez. Agora com o seu irmão mais velho – que é absolutamente apaixonado por ela e faz quase tudo o que ela pede sem pestanejar.
Ela tem total ciência disso, e venho percebendo que cada vez mais ela aprende a usar esse trunfo a seu favor.
Ele está na sala ao lado ocupado com um quebra cabeças de mil peças da floresta amazônica, e escuto-o perguntando:
FILHO: Mas a mamãe deixa? Você tem que perguntar pra ela.
Quase choro de emoção em cima da comida. Olha só!! Minha autoridade à mil! E eu achando que ninguém nessa casa me obedecia.
Escuto ela respondendo:
FILHA PEQUENA: Vou perguntar para a mamãe, ‘peraí’.
Uma pausa.
Aguardo, mas ela não aparece na cozinha. E não me pergunta nada.
E então consigo ouvi-la dizendo descaradamente para o irmão:
Ouço o barulhinho do papel sendo aberto. E ela consegue sua bala.
Determinação, a gente vê por aqui.
Autoridade, médio…
Muito bom !!!!
esperta essa pequena 😉
Maravilhoso