Vamos deixar essa corona-pane de lado um pouco, e focar por um breve momento na mente dócil e completamente alheia aos problemas da vida real de minha pequena de três anos?
Eu estava dormindo. (Quem é mãe sabe a emoção que é este momento do dia.)
Dormia gostoso na minha cama, com meu edredom. Quando de repente, não mais que de repente, senti o corpinho quentinho da minha pequena de três anos entrando do meu lado e se aninhando em mim.
Tentei relutar, mas estava tão gostoso.
E eu estava tão cansada.
“DESENCANA”, pensei.
Abracei ela e voltei a fechar os olhos.
Nada contra quem faz o uso de cama compartilhada, sério. Cada um com suas escolhas!! Mas durante a noite eu particularmente prefiro que eles durmam em suas respectivas camas, por motivos de:

Bom, naturalmente, na manhã seguinte acordei quebrada e falei pra mim mesma: Débora, aprende de uma vez que isso não dá certo com você.
O problema foi que naquela noite ela veio, de novo.
Dessa vez eu estava preparada… Despertei, determinada. Peguei ela no colo e a levei para sua própria cama. Fiquei ali um pouco, um zumbi total, e quando senti que dava para dar aquela fugida ninja do quarto, voltei pra minha cama. Deu certo!
No dia seguinte, perguntei por que ela havia acordado à noite de novo.
ELA: Porque eu estou com medo.
Medo?? De quê, eu perguntei. Dos fantasmas, ela disse. Ah, que amor!! Acho que todos passam por isso em algum momento.
EU: Mas filha, não tem fantasma…
FILHA, ultrajada: Tem sim!!
E eu lá vou discutir com a doce imaginação de uma menina de três anos?? Não, né?
EU (me achando esperta): Mas eu mando todos embora quando te coloco pra dormir, meu amor.

Sei…
EU: Então o que você quer fazer? Quer mandar eles para o quarto do seu irmão?
(Notem que sou uma mãe extremamente madura. Parabéns pra mim.)
FILHA, pensativa: Não vai dar certo… eles vão voltar mesmo assim, porque eles gostam de mim.
(Oras, pelo menos em matéria de auto estima estamos indo bem!!)
EU: Já sei, então vamos fazer um cantinho para eles? Uma caminha, com cobertor, travesseiro? Aí eles vão saber que é pra ir pra lá.
(tradução: To topando qualquer coisa pra você perder o medo, dormir tranquila e não me acordar mais a noite)
FILHA (considerando a ideia): E colocar lá no quarto do meu irmão?
EU (ops!!): Sim!!
FILHA (super empolgada): Vamos!!!
Dito e feito.
Pegamos a caminha de bonecas dela, forramos com o lençol de boneca e cobertor. Improvisei um travesseirinho. Depois, ela pediu para fazermos um desenho com uma placa explicative e me disse:
FILHA: Pra eles saberem que aqui é a caminha deles mamãe.
EU: Claro filha, acho importante, senão eles se perdem, né? Já pensou? Vamos fazer um desenho BEM LINDO!!!.
Fazemos o desenho.
EU: Pronto! Está bom assim?

Graças aos céus.
Porém, passam alguns instantes e…
FILHA: Mas mãe…. falta a comidinha!!!!
Ah, beleza.
Vou até a caixa de comidinhas de brinquedo e começo a separar um bolo de mentirinha, uma xícara de chá da Ariel, de repente uma maçã de plástico… Planejo um lanche completo e nutritivo para os nossos visitantes.
Mas não é suficiente para ela.
FILHA, indignada: MÃE!!! Tem que ser comida de verdade!!!
EU: Ah jura?? Ok! O que você quer dar? Fala pra mamãe.
(tradução: To topando qualquer coisa pra você perder o medo, dormir tranquila e não me acordar a noite)
FILHA: Arroz com franguinho.
EU, incerta: OK!
FILHA: No prato da Peppa. Ele gosta da Peppa.
Então fomos de Peppa mesmo.
Resumindo: Tem uma caminha de boneca super aconchegante, com um desenho de fantasmas e e um pratinho da Peppa com arroz e frango à milanesa cortado em cubinhos especialmente para a família de fantasmas. Dentro do quarto do meu filho de dez anos.
Resultado: Essa noite ela dormiu feliz e não acordou durante a noite!
Problema: A comida é perecível e não pode ficar lá, parada. Vou ter de trocar. Mas vamos que vamos!! Quarentena sem fantasmas já está valendo.