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As certezas que eles tem

As vezes as crianças chegam com umas verdades absolutas. Umas coisas nada a ver com nada, mas que eles acreditam do fundo do coração deles. Coisas que, por algum motivo, para eles fazem todo o sentido.

Lembro de quando meu filho veio me explicar que o carneiro chama carneiro pois come muita carne.

Eu tentei explicar que o carneiro não come carne, que na verdade ele é um animal herbívoro, que só come vegetais como por exemplo o pasto. Até mostrei fotos de carneiro no google.

Mas não obtive sucesso. Ele continuou convicto de que o carneiro chama carneiro pois come muita carne.

Aí eu desisti, né? O tempo vai ensinar.

Essa semana ele me apareceu com uma nova certeza absoluta.

Eu estava trocando minha filha, quando ele chega correndo afobado.

carneiro 1

Nessa hora há um silêncio.

Como se ele estivesse organizando os pensamentos dele antes de falar.

E aí ele me conta o que está pensando:

carneiro 2

Ah meu D”s, e essa agora? Da onde ele tirou?

EU: E quem te contou isso filho?

ELE: Eu já sabia sozinho.

O que fazer? Tento explicar ou deixo ele descobrir sozinho?

No caso, deixei por isso mesmo, porque até eu conseguir organizar as minhas ideias e ensaiado uma resposta, ele já tinha se virado e voltado para seu quebra cabeça.

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Machucados e Dramas

Ontem meu filho saiu da escola com uma animação desigual. Sempre sai empolgado, mas ontem tinha algo a mais. Ele corre na minha direção com os olhinhos arregalados, um quê de preocupação. E diz:

FILHO: Mãe! Mãe!! Olha meu dodói!

Esticando seu braço e levantando a manga do casaco, lá estava um pequenino arranhão. Do tamanho de um clipe de papel.

EU (fazendo a maior cara de preocupação do mundo): Nossa filho, como você fez isso??

FILHO (em tom solene): Na aula de futebol.

Não preciso dizer que o tal machucado se tornou o assunto do carro durante a volta da escola.

dodoi

Chegando na garagem, olhei de novo para o dodói e constatei que não tinha o que fazer. Já estava ótimo, cem por cento cicatrizado.

Mas meu filho ainda estava monotemático.

dodoi2

Então, quando entramos em casa, só para acalmar os ânimos, levei ele até o banheiro. Passei um creme (qualquer coisa serviria. O importante era passar alguma pomada só para ele sentir que a gente deu importância.)

No caso passamos hidratante Johnson mesmo.

Finalizamos o procedimento com um super band aid do Toy Story.

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Apesar de não querer tomar banho para não estragar o curativo, paciente passa bem.

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Papo de criança

Essa semana recebemos um amiguinho do meu filho aqui em casa.

Nós estávamos brincando felizes, quando ele me conta entusiasmado que foi no teatro da Peppa.

EU: Que legal!! E você gostou?

AMIGO: Sim!! Tinha a Peppa e o George, e eles iam passear e blabbla

EU: Uau que demais!

E virando-me para o meu filho, pergunto

EU: Vamos, filho, no show da Peppa algum dia desses?

Mas meu filho nem me escuta.

Em vez disso, ele se vira para o amiguinho, com um olhar desafiador, e diz:

papo lego bombeiroXii… começou.

AMIGO (entrando na disputa): No show da Peppa tinha um macaco que pulava muito alto!

FILHO: E no show dos Três Porquinhos tinha um lobo mau que pulava mais alto.

AMIGO: Mas no show da Peppa o macaco pulava até o céu.

EU (tentando intervir nessa discussão sem fim): Legal meninos, os dois foram em teatros incríveis e…

Mas ninguém me escuta.

lego bombeiro

FILHO: Sabia que meu pai é muito grande e tem trinta e dois anos?

AMIGO: E o meu pai é muito MUITO grande e tem trinta e quatro anos.

FILHO: E o meu é mais alto que o céu.

AMIGO: O meu é mais alto que a nuvem!!!!

Preocupada, resolvo dar um basta na disputa sugerindo outras brincadeiras:

EU: Ok turminha, vamos brincar de lego? De playmobil? O que vocês querem fazer de legal?

O que eu não devia ter feito, pois só trouxe ideias para uma nova briga.

lego africa

Aí temos uma pausa. Em que os dois se olham fixamente. E então:

AMIGO: Ah, deixa eu ver o de bombeiro?

FILHO: Tá bom! Vem comigo!

E os dois saem, felizes da vida, brincar com o lego do Bombeiro.

Como se nada tivesse acontecido.

LEGO BOMBEIRO 23

Moral da história e aprendizado do dia:

Não se meta em discussão de criança. Porque não fazem o MENOR SENTIDO e você vai se estressar mais do que eles.

Como já dizia o ditado francês (ou sei lá em qual língua) “O juíz das crianças se enforcou”.

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Supermercado

Ir ao supermercado com as crianças é quase como ir ao parque de diversões: Tem gente bacana. Tem “carrinho que bate bate”. E principalmente, tem comida.

Eles chegam naquela animação, os dois correndo pro carrinho, ansiosos para ajudar a mãe.

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Nos primeiros 15 minutos minha filha fica sentadinha no lugar de criança. Ela faz questão de me ajudar, arremessando colocando todos os itens que eu seleciono dentro do carrinho.

Meu filho, por sua vez, quer me “ajudar” a selecionar o que vamos comprar…

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Quem PRECISA de batata pringles?

Enquanto caminhamos pelos corredores, ele vai pegando coisas que nem sabe o que é. Basta ter uma embalagem bonita.

Mas não dá pra ficar comprando pasta americana e fermento em pó toda semana né? Então a maioria dessas coisas “inúteis” eu consigo disfarçadamente retirar do carrinho e devolver nas prateleiras. Mas preciso ser discreta, pois se ele vê, fica ofendido.

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Nisso, minha filha cansou do carrinho. Quer ir para o chão.

O problema é que com os dois no chão, o programa se torna muito mais complicado. Cada um vai para um lado!!

Ela adora a sessão dos congelados, ele já prefere a de doces.

 

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No final do passeio, eles começam a reclamar.

Focada em terminar as compras, eu dou pra cada um deles um pacotinho de sucrilhos. Dependendo da gravidade da situação dou até um pirulito.

Por fim, a hora do caixa.

Também conhecida como A Hora Das Perguntas Sem Fim.

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Ainda bem que eles são adoráveis…

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PS: preciso confessar que as vezes ele traz boas ideias de comidas e ingredientes para fazer em casa.

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Entre tapas e beijos

Irmãos. Uma relação intensa e complexa… por um lado se amam. Por outro, se provocam o dia inteiro. Sentem ciúmes…

Tem muita coisa pra se falar sobre relacionamento de irmãos: O amor e companheirismo. As risadas a dois. As brincadeiras fofas. A cumplicidade. O carinho.

Mas hoje vou focar em outro tema: as incansáveis disputas por brinquedos.

Porque são incansáveis mesmo. Diárias. Na verdade, ocorrem várias vezes ao dia.

Vamos começar do início:

Logo que minha filha nasceu, eu ainda não tinha nenhum problema nesse quesito…

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Ela era pequena e ficava quietinha no carrinho, admirando seu móbile. Olhando pro teto. Se distraindo com o mundo ao seu redor.

Aí, o tempo passou. Ela começou a sentar, e depois a se movimentar um pouco, devagarzinho, sem muita coordenação.

Não demorou para ela começar a engatinhar.

E foi então que as verdadeiras brigas começaram. Afinal, ela passou a se mover de forma coordenada e ir justamente em direção aos brinquedos que ele estava usando

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O que acabou se tornando o passatempo favorito dela.

No começo, meu filho me chamava para resolver a situação. Na verdade ele gritava. Gritava tanto que parecia que era o Godzilla se aproximando dele, e não um bebê de 8 meses.

A gente tinha o seguinte “combinado”: se ela atrapalhasse a brincadeira dele, ele tinha que me chamar. Não podia empurrar ela. Não podia bater nela. Não podia arrancar os brinquedos da mão dela.

 

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Eu mereço…

E então, devido a minha falta de eficiência em ser rápida o suficiente, em pouco tempo ele desistiu de me chamar e começou a agir por conta própria:

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Ela, por sua vez, rapidamente aprendeu a revidar.

Então hoje, no auge de seus 4 anos e 1 ano e meio, eles brigam de igual pra igual. Até porque ele também adora “atrapalhar” as brincadeiras dela.

Não é uma briga violenta… na verdade é quase amistosa…

Pensando bem, isso é o que eles mais fazem durante o dia: brigar e disputar pelos brinquedos. Eles gostam mais de fazer isso do que propriamente brincar.

Deve ser um código de irmãos sabe? Tipo “Oba!! Vamos brigar por brinquedos e deixar nossa mãe doida!! Yeeey!!“.

Eu imagino que quando eu não estou olhando eles até combinam secretamente as próximas disputas…

Será?

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Fim de tarde no parque

Aí eu resolvi ensinar pela 17645ª vez meu filho a jogar o lixo no lixo.

Estávamos no parque e ele tinha acabado de tomar sorvete.

Depois de se pingar todo, ele estendeu o papel e o palito para mim. O clássico MÃE, ACABEI. (O segundo clássico, porque o primeiro envolve um banheiro, uma privada, e uma mãe ocupada)

Apontei para trás dele, onde a apenas 4 metros havia uma lata de lixo (daquelas bem grandes e verdes, sabe?), e mandei ele jogar lá.

Fiquei obvservando a emocionante cena do meu filho jogando lixo na lixeira.

Ele parou a uma certa distância do cesto (um metro mais ou menos) e mirou.

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Com infinita concentração, sem nem piscar, ele joga o papel e…. lixeira 2

Erra.

Mas ok, vamos tentar de novo né?

Um, dois eee…

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Ele erra de novo.

Mas não vamos desistir. Quem acredita sempre alcança.

Pacientemente ele pega o papel do chão, se posiciona, e…

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Erra.

E na outra vez:
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Erra de novo….

Aí, quando eu achei que ele ia parar de tentar, ele teve a brilhante ideia de se aproximar mais da lata.

Achei uma excelente ideia!!

Mas…

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Ventinho chato!

Então ele tenta de novo, de outro ângulo…

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Tadinho!! Não era o dia dele, gente.

Derrotado, ele finalmente desiste e me convoca para concluir a missão.

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Mamãe multi-uso em ação.

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Eu sei que foi uma situação extrema, mas realmente aconteceu. Ele deve ter tentado umas 20 vezes acertar a tal da lata. Tentou muito mesmo, não era pra ser. 

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A foto que acabou em pizza

Era uma tarde de semana qualquer e os dois estavam de ótimo humor.

Brincavam juntos serenamente, felizes, com o seu novo jogo de comidinhas de plástico. Sem brigas por brinquedos, provocaçõezinhas e choros.

Tudo em perfeita harmonia.

chazinho 4Excelente oportunidade de tirar uma foto deles brincando com o jogo de chá e lanches que ganharam de presente.

Animada, saí correndo até o meu quarto pra pegar a câmera fotográfica.

Mas nos 10 segundo que levei para voltar, instaurou-se o caos (como sempre acontece quando eu quero tirar uma foto deles…)

Minha filha chorava dramática no chão. Xícaras, colheres, cadeiras, comidas, estavam espalhados. E meu filho segurava defensivamente um pedaço de queijo de plástico.

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Aí ele me explica o motivo da cena:

FILHO: Ela não quis me passar o queijo, mãe.

EU: Mas filho, ela é bebê. As vezes ela não entende o que você fala, né?

Ao que ele me reponde:

chazinho 9Eu mereço…

Tento contornar a situação. Devolvo tudo no lugar e explico pra minha filha a importância de passar as coisas para as pessoas na mesa.

Chorosa, ela sinaliza que ainda quer o pedaço de queijo que está na mão dele.

Então eu tento convencê-la a pegar a cenoura. Cenoura é muito gostoso!!

Mas ela não aceita. Está decidida no queijo.

Então tento convencer ele de que a cenoura é bem melhor.

Mas não, obrigado. Ele vai ficar com o queijo mesmo.

Então tenho uma ideia brilhante:

EU: E a pizza, filho?? Que tal?? A pizza é uma junção de muitos e muitos queijos!!

Mas…

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Tudo por um simples pedaço de plástico amarelo. Podia ter vindo dois pedaços de plástico amarelo no raio do jogo de lanche né?

Nisso, minha filha desata a chorar de novo.

E aí, de repente, meu filho cansa daquilo tudo.

Simplesmente levanta e larga o queijo em cima da mesa.

Ela, então vitoriosa, pega o queijo. Olha pra ele por alguns instantes e chega à conclusão de que na verdade, o pedaço de plástico não é tão interessante assim.

Levanta e vai embora, me deixando sozinha…

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Com a mesa de lanchinhos e chás, o pedaço de queijo, a câmera numa mão e a pizza na outra.

Acho que a foto vai ficar pra próxima…

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Quantos dinheiros você tem?

Há algumas semanas, tivemos uma festinha de aniversário de uma amiguinha da escola. O brinde foi uma moedeira. Daquelas redondas de plástico, com zíper, sabe? Todo mundo já teve uma dessas um dia.

Meu filho simplesmente adorou o brinde. Amou de paixão. Voltou da festa super animado, pedindo para eu dar à ele “muitos dinheiros”.

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A chegada da moedeira na nossa casa marcou o início de uma nova descoberta na vida dele: o dinheiro. Ele descobriu que podemos pagar as coisas com dinheiro, e não só com cartão. E mais importante: que ele tinha acesso à esse dinheiro.

De repente ele se tornou tão poderoso!!!

Dei à ele alguns trocados pra começar a encher sua moedeira. Mas ele não quis saber das notas, só das moedas.

Moedas são bem mais legais… são redondinhas, fazem barulho… Notas são sujas, velhas, feias. Né?

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Ah, a doce inocência das crianças…

Agora ele acha que pode pagar tudo. Quando tomamos uma água de coco na praça, quando levo ele para cortar cabelo, ou até para pagar as compras do mês.

Ele saca aquela moedeira do bolso, com pouco mais de um real e cinquenta, e declara:

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Eu lanço para a moça do caixa aquele olhar meio cúmplice. Meio “ele só tem três anos, relaxa eu vou pagar. Mas ele ta tão feliz.. então finge que você acredita”. Ela me devolve um olhar de compreensão. Tudo numa realidade a parte.

Pagamos e saímos, prontos para a próxima.

Me pergunto quando vou ter que contar pra ele que na verdade sou eu que pago tudo.

Algum dia ele vai ter que aprender… mas até lá, vou deixando ele pagar as coisas com “os dinheiros” dele.

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A mentira cresce…

Perto da nossa casa tem uma pracinha gostosa, com árvores, bancos e uma vendinha de água de coco. Nessa manhã de domingo, eu iria até lá com as crianças. Meu marido, que tinha que terminar umas coisas de trabalho, nos encontraria ali mais tarde.

Mas acabou que saímos, tomamos coco, brincamos, vimos os cachorrinhos… já era hora de ir embora, e o papai acabou não aparecendo.

Então, meu filho, indignado:

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Ai meu D’us. Eu mereço…

EU (pacientemente): Filho, ele não mentiu, deve ser que ele ficou ocupado com as coisas de trabalho e não conseguiu vir. Agora a gente fala com ele em casa.

FILHO (com tom de voz acusador): Não é… ELE FALOU MENTIRA!!

Ele estava tão decidido sobre o assunto que eu simplesmente desisti. Chegando em casa ele esqueceria. Ou perguntaria pro pai.

Porém, depois de andar por mais alguns minutos…

FILHO (já mais calmo): Mãe, sabe que quando você fala mentira, a mentira cresce, cresce, cresce, cresce.

Hm. Muito interessante essa observação. Da onde será que ele tirou?

EU: É mesmo?? E quem te contou isso?

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Ah, é. Um livro sobre ‘como é feio mentir que eu comprei pra ele depois que ele começou a falar que ‘foi no parque da Xuxa ontem’ (quando ontem na verdade ele tinha ido na escola) e que ‘comeu tudo que tinha no prato’ (quando na verdade a comida estava intacta. E bem na minha frente, que descarado!)

Faz uns três meses que eu não vejo o livro, desde antes de nos mudarmos de apartamento. É um livrinho fofo, sobre dois irmãos ursinhos que estavam jogando bola na sala e quebraram o vaso da mãe. Aí eles inventaram que quem quebrou o vaso foi um passarinho que passava por ali.

O livro explica que, quando você conta uma mentira, a mentira CRESCE, CRESCE E CRESCE (metaforicamente, é claro).

Eu já estava toda orgulhosa por ele ter captado o conceito do livro tão rápido, depois de ler apenas duas ou três vezes. Que esperto meu meninão!!

E então, ele vira para mim com seus olhinhos cheios de preocupação e anuncia:

MENTIRA 2Hmm…