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O que uma aula de hidroginástica pode te ensinar sobre a vida

Sempre fui uma pessoa adepta às atividades físicas. Nada de muito agressivo – desculpa aí turma do cross fit, isso não é comigo. Mas curto uma aula de bicicleta, uma musculação básica, uma yoga… e minha maior paixão: o balé. 

Eis que, com a minha nova forma física (olá barriga de grávida de 32 semanas), meu médico mandou testar uma modalidade nova: a hidroginástica. Torci o nariz. Hidroginástica? Não é tipo… voltada para idosos? Em minha mente logo surgiu uma piscina cheia de pessoas beem mais velhas que eu. Isso se chama preconceito? Talvez. Não me orgulho disso, mas a priori fui, sim, meio preconceituosa. Não faça isso, não é legal. 

Bom… fazer o que? A dor nas costas é real, o peso da barriga é real, o cansaço é real. E qualquer grávida que já entrou numa piscina sabe: nada é mais gostoso do que sentir o corpo leve e solto como a gente sente dentro da água. 

Pois bem, vesti o chapéu da humildade e me inscrevi na tal aula. Cheguei no primeiro dia, eu com minha barriga, minhas dores nas costas, e minha relutância. A novata da turma, meio atrasada, tooda tímida. Entrei na piscina, vesti aquela touca de banho suuuper sensual, e… fui recebida cheia de sorrisos e boas vindas pelas minhas novas colegas de turma.

Senti o peso da consciência me atingindo como um piano de cauda que cai num personagem de desenho animado. Preciso dizer: fui desarmada nos primeiros 20 segundos de aula. 

Porque são 40 mulheres – e alguns homens – todo mundo de touca (super sexy), se movendo desajeitadamente com seus espaguetes. Sim, a cena é um pouco cômica para quem vê de fora. Mas lá dentro… ah, lá dentro… a gente se sente atletas profissionais prontas pra escalar o Everest. Nós somos tudo o que a gente quiser. Por quê? Porque logo no primeiro dia eu percebi: estar ali dentro é uma conquista.

Imagina, faça chuva faça sol, você sai de casa, veste um maiô e uma touca (super sexy), levando uma bolsa com toalha, troca de roupa, nécessaire, e uma vontade gigante de fazer dar certo. Entra na água, faz a aula, sai da água, se troca inteiro pra ir embora. 

Ficou com preguiça? Pois imagine fazer isso com 80, 90 anos. Há algo muito forte nisso. Se sem esperança você não sai da cama, com esperança você chega até a piscina da hidroginástica. 

No meio de São Paulo, enquanto lá fora o trânsito está o inferno de todo dia e pessoas correm de um lado para o outro atrás do sucesso, de subir na carreira, de fechar mais um contrato, enquanto o caos da vida urbana acontece, na piscina aquecida da academia há um grupinho de distintas senhoras vaidosas, sempre de brinco e maquiagem, estão ali completamente alheias a tudo isso, literalmente no melhor joire de vivre que a vida pode oferecer, ao som máximo de Lulu Santos, Skank, Elvis Presley e Madonna. Aliás, a trilha sonora é um show à parte.

Mas não se engane, nem tudo são flores. Minhas estimadas colegas de piscina carregam um mundo inteiro dentro de si – suas histórias, suas perdas, suas dores, seus amores… 

Seus olhos são repletos de coragem mas também de passados densos e de coisas não ditas. E mesmo assim, elas vêm. Se isso não é força, eu não sei o que é. 

Toda segunda, quarta e sexta às 9h, a coragem e o poder de superação imperam, e elas tem um encontro marcado com a leveza: da piscina, da aula, e de seus corações abertos para novos desafios.

Conforme os dias passam, começo a orgulhosamente fazer parte da turminha. Dona Vera. Dona Alegria, Dona Nena – que toda aula parece esquecer que estou grávida e diz “querida, parabéns! Já sabe o que é?” Toda aula eu sorrio e lhe digo. Na aula seguinte ela esquece e pergunta de novo 🙂

Dona Antônia, Dona Sandra, Dona Eli, Dona Regina – que chega todos os dias graciosamente atrasada, rebolando os quadris e desfilando seu novo modelito de maiô como uma modelo da Victoria Secret, enquanto recebe assovios efusivos das amigas e professores.

Dona Lilian, Dona Neusa, dona Odete, que vai ter que realizar uma cirurgia no quadril e está pensando se aproveita e já faz uma lipo. “Sabe, pra ficar mais esbelta”, diz ela. Ela faz as sobrancelhas todo ano. 

Dona Aurélia, que tem artrose e as vezes sente dor mesmo na água. Ela já tentou fisio, mas não ajudou. Tá pensando em cirurgia. 

Dona Malka que toda semana conta orgulhosa uma simpática anedota dos filhos crescidos. 

O que elas têm em comum?

Um senso de humor invejável e uma contagiante alegria de viver. Diferente dos outros andares da academia, ninguém ali tá preocupado em estar com os abdominais em dia, nem se a celulite está aparecendo, ou se a pele está flácida. A vibe ali é outra: saúde, diversão e muita, muita risada.

É assoviar para o “professor bonitão” que está lá na frente incansável, mostrando como fazer os exercícios. É mais conversar do que fazer o exercício propriamente dito – para o horror do professor. Ele sabe disso. Gentilmente puxa a orelha das mais conversadeiras (com muita cara de pau, preciso confessar que acabei me tornando uma delas. Fazer o quê? É mais forte do que eu. Elas tem um papo irresistível.) A diversão ali é um valor inegociável. 

A maioria de minhas novas amigas não entra na água usando a escada normal – elas usam a cadeira de acessibilidade, sabe? Quando estão ali na cadeira, elas são as próprias estrelas de hollywood em ascensão, sendo aplaudidas e reverenciadas pelas amigas. 

Quando vai chegando o fim da aula, o pessoal da natação começa a se posicionar nos seus devidos lugares, prontos para pular e nadar os seus 2-3-10 mil metros. Do alto de sua juventude forte e desafiadora, eles observam nossa turminha desajeitada com o mesmo olhar de pré-julgamento que eu provavelmente olhava, um tempo atrás. E eu só penso: ah, se vocês viessem fazer uma aula conosco… 

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Frescobol

Nesse fim de semana decidi aceitar um convite pra jogar frescobol na praia – depois de meses (ou seriam anos??) sem jogar. Eu com minha filha de dez anos – duas Gustavo Kuerten, como vocês podem imaginar. Pra quem não sabe, estou grávida. De sete meses. (Pois é! Mas isso é história pra outro post). Então, de fato, faz um BOM tempo que não me aventuro nesses esportes radicais. 

Ultimamente, estou tão preguiçosa que quando eles me pedem pra brincar de alguma coisa, eu me desvencilho do pedido, em geral com a máxima:

(Dica: esse tipo de resposta não surte o efeito desejado. Não é porque você a lembrou de que ela tem irmãos que ela vai dizer “Nossa, verdade, esqueci! Que bom que você me lembrou, vou lá então brincar com ele”. Pode até dar certo uma ou duas vezes, mas seu uso excessivo, como tudo na vida, desgasta.) 

Por fim, não sei se movida pela culpa ou pela saudade de jogar frescobol (o que, na boa, levando em conta minha atual forma física, duvido muito. Desculpe ao esquadrão anti-culpa de plantão, mas hoje vou ter que ficar com a culpa mesmo) aceitei o convite.

Em troca, ela me olha com os olhos arregalados de surpresa e a indagação: 

ELA: VAI MESMO? 

EU: vou, ué. Eu sou muuuito boa nesse jogo. 

ELA (com sorriso de orelha a orelha – o que dói um pouco… é tão fácil fazer eles felizes): Eu também!! 

(Na real: nem eu nem ela somos muito boas nisso. Mas quem se importa?)

Algumas coisas que aprendi nesse jogo: 

1- Dá pra saber muito sobre uma pessoa pelo modo como ela joga. Se ela é competitiva, se age como se estivesse indo pra guerra, se ela é doce, se é empática, se está mais preocupada em fazer o jogo ser legal do que em efetivamente vencer.

2- Nosso máximo de pontuação sem deixar a bola rolar a esmo praia afora foi 20. VINTE. Com dificuldade.

3- Mais da metade do nosso jogo consistia em sair correndo loucamente atrás da bolinha antes de acertar algum banhista desavisado ou se perder na imensidão do mar azul. 

4- Enquanto uma dupla normal jogando frescobol ocupa apenas um perímetro horizontal na praia, a nossa bolinha insistia em fazer os mais criativos e rebuscados caminhos. Então nosso perímetro de jogo era algo assim: 

5- Isso fazia com que os passantes ficassem com medo de passar perto de nós. 

6-  Tudo bem fazer coisas em que a gente é muito ruim. No máximo, serão momentos conexão, queima de calorias e risadas. E quem não precisa disso na vida? 

(Em tempo: todos os banhistas sobreviveram.)

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Óleos Essenciais?

Faz já um tempo que ouço o pessoal falar dos óleos essenciais. Que te dão energia, te ajudam a relaxar, a ter uma vida incrível. Que maravilha! Um milagre embalado num frasquinho de 10 ml. Parece coisa de outro mundo. A resposta para todo os meus problemas está nos óleos essenciais, claramente.

Eis que outra tarde no shopping, passo por um quiosque desses que ficam no meio do corredor. Ele é uma verdadeira visão de paz e equilíbrio em meio as lojas hiper iluminadas e estimulantes. Um canto tranquilo, com vapores saindo e luzes calmantes. O cheirinho que exala é tão delicado, e a vendedora tem a cara de plenitude. Sabe, aquele brilho no olhar, aquelas feições radiantes, um cabelo brilhante?

Me sinto um caco só de olhar pra ela. Ela com certeza sabe de algo que eu não sei.

“Olha, o de lavanda faz muito sucesso… e tem vários benefícios. Cicatriza, desinfeta, acalma, ajuda a dormir…”

Opa. Tô super precisando dormir melhor. Não amo lavanda, mas também não odeio. Vamos de lavanda. 

Paguei o tal do óleo e saí do shopping plena, com minha sacola zen prometendo a melhor noite de sono que eu teria em anos / desde que me tornei mãe. Só de comprá-lo eu já me sinto mais calma e animada pra hora de dormir. 

À noite, depois do jantar, do banho, da escovação de dentes e toda a rotina noturna (onde eles ainda insistem em perguntar, TODO SANTO DIA, se hoje precisam tomar banho, se hoje precisam escovar os dentes. É como se a pergunta fizesse parte da rotina), eu anuncio:

As meninas estão curiosas, Simon me olha com aquele tom de quem não põe muita fé, como quem diz “O que será que minha mãe, dinossaura, pré histórica, inventou agora?” 

(Se tivesse um museu sobre maternidade, essa seria a frase).

Plena, tiro da minha sacolinha o óleo de lavanda como se ele fosse um troféu. “TCHANAN!!!”

“O que é isso?” Stella pergunta. 

Faço a minha melhor voz de pessoa-madura-que-sabe-da-vida: 

Stella é a primeira a estender o pulso. Adora experimentar coisas novas, principalmente se for um cosmético cheirosinho. 

Lea vem em seguida.

Simon segue me olhando desconfiado. Por fim, consigo convencê-lo de que não é magia negra (!) e ele topa usar. 

“Pronto, agora esfrega um pulso no outro e deixa fazer efeito” 

É uma farra, as duas cheiram o pulso, mostram pro pai, deitam na cama super animadas. Tô positiva de que vai ser a melhor invenção que eu já trouxe pra casa. 

(Tá, na verdade eu não sei se vai funcionar 100%, mas só pela farra e pela experiência sensorial terapêutica, já tá valendo)

Mais tarde, Simon fica me zoando:

Haha. Muito engraçado.

Reviro os olhos e explico que vai melhorar a qualidade do sono dele, que não é uma poção mágica que funciona na hora. Eventualmente ele também vai pra cama e dorme o doce sono dos justos. 

Eu vou me deitar pensativa… Não entendo muito sobre óleos essenciais e seu poder de cura. Talvez seja o óleo misturado com a vontade de fazer dar certo. Talvez o essencial primordial seja acreditar. Porque quem acredita carrega uma dose de leveza no coração (e cá entre nós… quem não precisa de uma dose de leveza no coração?)

Talvez essa seja uma das verdadeiras forças do óleo essencial: ter esperança. Esperança de uma boa noite de sono. Esperança de que existem pequenos milagres embalados em vidrinhos com tampas coloridas. Esperança de ter fé. E esperança de unir as crianças num banheiro apertado no final de um dia corrido, todos torcendo para que a compra inusitada da mamãe dê certo. 

As vezes, tudo o que a gente precisa é mesmo do essencial 🙂

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A tapioca chegou a minha casa

Eu sei, eu sei. Estou cinco anos atrasada. Talvez mais. 

Tudo começou um mês atrás. Meu filho chegou para mim e perguntou:

FILHO: “Mãe, por que a gente nunca faz tapioca?”

Ele havia acabado de voltar da casa de um amigo, onde aprendeu a incrível arte da tapioca. 

Oras, o que posso responder? Apenas a verdade, nada mais que a verdade:

EU: “Porque eu não sei fazer tapioca, filho.” 

Ele olha pra mim incrédulo.

Entro na defensiva, afinal  estou na quinta série  maturidade as vezes nos falta, mesmo quando somos adultos. 

EU (super madura): “Mas olha, eu sei fazer almôndega, lasanha, batata gratinada…” começo a enumerar.

Ele revira os olhos pra mim e começa a vasculhar o armário da cozinha.

ELE: “Não tem tapioca?” 

EU: “Não, não tem, filho” 

Quando a tapioca virou febre alguns anos atrás, comprei para experimentar e não curti. Pareciam bolinhas de isopor grudadas e sem gosto nenhum. Na época ninguém em casa gostou e o saco inteiro acabou indo parar no lixo.

ELE: “É porque você não sabia fazer, mãe.” Ele insiste. “É gostoso, sério.”

Pois bem, me dou por vencida.

Pego a minha bolsa e saímos para comprar a tal da tapioca. 

Na volta, ele arregaça as mangas e começa a me ensinar essa arte culinária. A cozinha se transforma num caos instantâneo, mas tudo certo, o importante é incentivar a independência, não é mesmo?

Vamos que vamos.

Ele despeja a tapioca, mexe a panela, remexe, espalha o queijo. Admiro sua desenvoltura na cozinha – até pouco tempo atrás ele nem sabia como usar os botões do microondas. 

Aliás, ele nem alcançava o microondas.

ELE: Tá pronto mãe.”

Olho para a tapioca. 

A massa granulada dobrada como um wrap de queijo derretido, e todo o amor e independência do meu filho refletidos naquele pequeno prato de sobremesa. 

Sentamos na mesa e comemos juntos. Ele, satisfeito consigo mesmo. Eu, com uma pontada de orgulho, não vou negar. 

De repente a tapioca pareceu muito mais deliciosa do que eu me lembrava. Um verdadeiro manjar dos céus. Será que é isso o que chamam de Comer Afetivo

Ele finaliza:

ELE: “E se você passar cream cheese, fica muito bom.” 

E não é que ficou mesmo?

Tudo isso pra dizer que a tapioca chegou com tudo na minha casa, marcando uma nova fase de independência alimentar das crianças. Desde então foram frigideiras e frigideiras de lanchinhos e cafés da manhã de tapioca – sempre de queijo. 

Nós até tentamos uma de banana, mas não deu certo! Tivemos de jogar fora. 

Faz parte do jogo né? 

Nem sempre as 

coisas funcionam. 

E tudo bem.