Depois de meses em quarentena – Obrigada China, obrigada morcegos. Obrigada políticos. Obrigada a sei lá quem mais dá para culpar. Obrigada. – decidimos fazer uma semana detox aqui em casa.
“Mas detox? Vocês estão comendo light?”
Não, nada a ver com comida ou dietas radicais abomináveis (conforme vocês puderam ver no post anterior, não estou conseguindo focar nisso no momento). É um detox de telas.
Significa que as crianças ficariam uma semana INTEIRA sem ver televisão ou brincar em tablets, videogames e celulares.
Não que eles fiquem MUITOO. Eles só tem ficado… muito. O consumo de eletrônicos aumentou significativamente durante a pandemia. Antes, éramos super regrados. Eles só podiam usar eletrônicos de sexta feira E de domingo. Não havia discussão.
Agora eu acabo deixando um pouco todos os dias. Porque sou um ser humano exausto.
E como eles estavam se tornando cada vez mais viciados – infelizmente as telas fazem isso com as pessoas… quanto tempo por dia você passa no celular? Já olhou? É assustador – decidimos fazer um detox de telas.
Isto é, uma semana inteirinha sem acesso à telas.
Enfim. Segue um relato de como foi a experiência aqui em casa:
Dia 1:
Muito choro e reclamação. Nos tornamos os piores pais do mundo. Injustos e sem coração.
Eles iam esquecer tudo o que estava acontecendo nos desenhos que estavam acompanhando. E por nossa causa TODOS os moradores do The Sims iriam morrer.
As crianças não sabiam o que fazer com si mesmas. Só sentiam a raiva crescente no peito e buscavam nos punir por fazer uma atrocidade daquelas com eles.
Confesso que quase desisti do plano.
Dia 2:
Insistiram de novo. Tentaram barganhar.
Como vocês podem ver, estava fácil a vida. Novamente fomos chamados de pais injustos. Escondo o controle da televisão e os tablets no armário do meu quarto, afinal, como dizia o ditado?
Ah. O que os olhos não veem o coração não sente.
Dia 3:
Começam a lembrar de brinquedos que estavam escondidos nos cantos dos armários e que eles não brincavam faz tempo.
Jogos como Cara a Cara, Lince e Twister são desenterrados e voltam a conhecer a luz do dia.
Passaram MAIS DE UMA HORA entretidos numa brincadeira onde eram policiais investigando um crime (não souberam me explicar qual era o crime, mas me garantiram de que a investigação estava indo bem). Nem mencionaram as telas.
Dia 4:
Consigo identificar um novo tipo de companheirismo entre eles. Parecem mais gentis e amigáveis. Brigam menos. A casa parece mais calma e civilizada.
Tento me lembrar da pesquisa que li a respeito do assunto. As telas deixam as crianças mais agressivas? Menos criativas? Passivas e vegetantes olhando para o nada. Era isso mesmo?
No fundo eu sei que sim. Mas secretamente espero que não.
Dia 5:
É quase como se as telas nunca tivessem existido. Continuam na brincadeira de investigação (curtiram a ideia de policial)
Fizemos o brownie e eles nem brigaram para lamber a forma. As meninas brincam de casinha, médica e cientistas.
O único que ainda sofre de abstinência é meu filho de dez anos, que precisa desesperadamente ouvir suas músicas (Legião Urbana, Raul Seixas e Engenheiros do Havaí. Não me pergunte como, desconfio de que estou criando um adolescente revoltado dos anos 90.) Ele também quer continuar mantendo a família e a linda moradia que construiu no The Sims.
Dia 6:
Minha filha de três anos encontra o tablet escondido e todas as memórias voltam, uma a uma. Imagino que ela tenha lembrado de si mesma de banho tomado e pijama assistindo a Masha e o Urso depois de um dia cheio. Ela chora.
Pede pelo desenho.
Quero dar – porque sou dessas. Quero dizer: “parabéns, meu amor, você aguentou muito bem, pode assistir um pouco de netflix.”
Mas o marido segura as pontas. Diz que não. Vamos distrair ela um pouco.
Levo-a dar uma volta de carro e comprar um picolé. Vemos carros, cachorros e gente. É uma distração excelente.
Voltamos para casa mais calmas.
Mas durante vários períodos do dia lembra do tablet e pede por ele. De vez em quando até chora.
Dia 7:
Cansei. Estou exausta. Preciso retornar uma ligação, responder vários emails e terminar o meu trabalho. Libero um pouco de filme depois do banho.
Conclusão:
Crianças vivem mais do que bem sem telas. A pessoa que mais sofreu com a semana sem telas, fui eu.