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Sobre perdas e lutos

Se tem um programa que eu amo fazer com as crianças é ir à livraria. Além de ser perto de casa e”kid-friendly”, a diversidade de olhares que existe lá dentro é incrível! Cada livro traz uma história, uma perspectiva diferente sobre o mundo, e eu adoro poder mostrar isso para as crianças.

Então, depois da livraria aqui perto de casa passar seis meses fechada para reforma, ficamos eufóricos quando ela reabriu há algumas semanas. E, é claro, para comemorar a sua volta, combinei que cada um poderia escolher um livro.

Chegamos, empolgados, já cumprimentando Susana, a gentil e simpática vendedora da área infantil que conheço há anos.

Então minha filha responde, solenemente:

“Sério?” pergunta Susana, confusa.

“É. Mas um bebê morreu na barriga da minha mãe, e aí ele não conseguiu nascer, e aí ficou ‘só’ três”.

(Detalhe no ‘‘ três.)

A vendedora olha para mim não sabendo o que responder. Dou um sorriso e digo que isso aconteceu faz tempo, e que não sei o que aconteceu que minha filha está adorando falar desse assunto agora, mas que está tudo bem, não se preocupe. Susana sorri, e seguimos batendo papo.

E então me lembro que, algumas semanas atrás, meu filho veio me perguntar se eu tinha um bebê “que não nasceu”.

Respondi que sim, meio pega de surpresa, até porque nunca comentei com ele do ocorrido. Ele deve ter ouvido eu falar sobre isso com alguém. Expliquei que às vezes as coisas dentro da barriga da mãe não se desenrolam muito bem e aí o bebê pode acabar não nascendo.

Ele escutou, processou a ideia e, sem mais perguntas, se afastou. Então, imagino que ele deve ter corrido contar para a irmã de seis anos, porque alguns minutos depois foi ela quem me apareceu com perguntas. Ela, diferente do irmão, estava completamente obcecada pelo assunto:

Conforme ela ia perguntando, eu respondia. Me pareceu importante dar abertura para ela poder elaborar a ideia, mesmo sendo uma história dolorida. E eis que, poucos minutos depois, ela de fato cansou do assunto e seguiu a vida.

Irmãos mais velhos são sujeitinhos fofoqueiros, não são? Acabo me lembrando de quando eu era pequena e descobri como os bebês são feitos. Segundos depois, fui correndo contar tu-di-nho para a minha irmã dois anos mais nova (que, diga-se de passagem, lidou com a ideia com muito mais classe e maturidade do que eu, que estava absolutamente chocada)

Enfim. Chamo as crianças para ver as novas edições dos livros do Monteiro Lobato. Lemos meia dúzia de histórias. Conversamos mais um pouco com a Susana. Corremos de um lado para o outro querendo absorver cada novo canto da livraria.

E então – em meio à vários: não, não pode dois. O combinado foi um livro só, lembra? A Susana pode separar para a próxima vez. Só um pra cada um, meu povo, só um, já falei… – finalmente, escolhemos um livro para cada e vamos para casa.

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Brincar de cabana

Você brincava de fazer cabana quando era pequeno?

Essa é uma brincadeira muito fácil e é SEMPRE um sucesso. Se você por acaso não teve infância não a conhece, consiste em pegar um lençol antigo (ou uma manta, toalha, o que tiver disponível) e tentar esticá-lo do jeito que der, prendendo-o entre dois móveis, como por exemplo entre dois sofás, formando uma cabana embaixo. Os pequenos piram nisso, colocam a imaginação para trabalhar.. é muito legal.

E no fim, eles acreditam piamente que a cabana deles ficou assim:

Quando na verdade ela é algo assim:

Mas tudo bem né? O importante é eles felizes. E a criatividade à mil.

Eu lembro que brincava MUITO disso com meus irmãos quando era pequena. E hoje em dia meus filhos adoram essa brincadeira também. Tem dias em que eles estão mais inspirados e ficam horas desenvolvendo as melhores técnicas de deixar a cabana esticada e grande (antes de começarem a se matar discutir pela decoração/disposição/espaço/móveis/qualquer assunto da cabana. O que sempre acontece depois de um certo tempo de brincadeira).

Um fator determinante para que ela seja considerada uma cabana de sucesso é se eles conseguem fazer com que fique tudo escuro lá dentro. Logicamente, essa é uma façanha praticamente impossível, mas eu finjo que tento ajudá-los, e fica tudo certo. Depois de um certo tempo tentando eles desistem.

Aí, uma vez montada essa elaborada tenda, eles curtem mobiliá-la, levar livros, lanternas, uma maçã cortada, travesseiros e cobertores, e juram que essa noite sim, eles vão dormir nela.

Bom, essa semana eu estava compenetrada numa leitura enquanto eles montavam uma cabana. Nesse dia em especial os dois estavam super focados e em sintonia, a brincadeira já durava horas sem brigas (o que, como meus leitores já sabem, é uma raridade aqui em casa). Quando de repente eu escuto meu filho de 9 anos comentando com minha filha de 6:

FILHO: Agora só falta fazer um bloquinho de Wi Fi e está pronta.

Um bloquinho de wifi?? Estou intrigada.

EU (precisando me meter no papo): Com assim filho, um bloquinho de wifi? Tipo um modem?

EU: Entendi… e usar o google pra quê por exemplo?

FILHO (após um momento de reflexão): Ah, para se eu precisar pesquisar como fazer fogo, por exemplo.

EU (morrendo de rir): Então tá.

Apresento à vocês caros amigos, a nova geração de montadores de cabanas. Elas são super tecnológicas vêm com wi-fi embutido. Só não possuem fósforos, isqueiros ou boca de fogão.
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*Meu filho fala “desencana”.. o seu também? Acho uma linguagem descolada demais para um menino de nove anos… 

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Pode? Onde? Quando? POR QUE???

Na última semana resolvi anotar as perguntas que as crianças me fazem. Decidi carregar um bloquinho comigo e ir compilando uma a uma. Havia separado um caderninho de notas especialmente pra isso, mas ele foi surrupiado por alguma das crianças e acabei anotando em papeis soltos pela casa, guardanapo, atrás de bilhete da escola, na correspondência, no bloco de notas do iPhone*, enfim.

Segue abaixo algumas das perguntas que consegui resgatar.

Mãe posso ver TV? Só um episódio de Jessie** no Netflix..??? Posso jantar sucrilhos com leite SÓ HOJE? Posso chamar um amigo em casa? Posso comer uma bala? Posso levar a nenê brincar lá embaixo? Me empresta seu celular?

Por que nossa porta é branca? Porta marrom é BEM MAIS bonito.

Por que meu dente ainda não caiu? Ele vai cair hoje? E até eu fazer seis anos ele cai? Você que se fantasia de fada do dente né? Fala a verdade, eu sei que é você. Não existe fada do dente né?

O que é um município? E o que é um estado? Quantas capitais tem no Brasil? Como você nunca contou? E no mundo? Você sabe qual foi o melhor jogador da Copa? Aposto que não.

EU: Não estava vermelho, estava amarelo.

FILHO: Não estava não, ficou vermelho ‘no meio que’ a gente estava passando.

Por que aquele homem é pobre? (apontando descaradamente)

Quanto tempo demora um minuto? E um segundo? E um milésimo? Você pode procurar no google como se faz bolo de brigadeiro gostoso? O nosso não saiu muito bom da última vez.

O que acontece com a família do carro quando a gente compra ele? Carro não tem família igual passarinho? Carro pai, carro mãe…? O que é ser vivo?

Por que a gente não pode comprar mais um peixe?

Você conhece uma loja chamada VINTE E CINCO? Minha professora falou que lá tem tudo.

Você acha que a alma da nossa bebê é a mesma alma do bisavovô que morreu?

(continua)

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*Obrigada especial ao meu marido que me ajudou pacientemente a lembrar de todas várias  para registrar aqui. 
**Jessie é um seriado sobre uma babá (super linda fofa legal e amorosa) que cai de paraquedas na casa de uma família super rica de NY, que tem 4 filhos adotivos e os pais estão sempre viajando. Eu me divirto muito assistindo com eles, e fico brava me sinto traída quando assistem sem mim.

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O parque de Pula Pula

Íamos num daqueles parques cheios de pula pula. Sabe? Aqueles que você paga por hora e a criança fica lá pulando pra cima e pra baixo, gastando energia e sendo feliz enquanto as mães sentam, fofocam e assistem? (ou pulam junto, dependendo do humor da mãe no dia. Ou correm atrás dos irmãos menores que não podem pular. Enfim)

Estava tudo acertado com uma amiga que ia junto, e as crianças empolgadíssimas com o passeio. Saímos de casa na pressa (como sempre), porque a bebê tinha acabado de acordar, então ela veio de pijama mesmo e eu levei uma roupinha para trocar lá.

Eis que a gente chega no parque – tira as crianças do carro, abre o carrinho, prende a bebê, pega a sacola de lanche, bolsa, celular, etc-  e entrando lá eu reparo que minha filha de cinco anos está vestida com uma linda saia de tutu rosa.

Saia. De tutu rosa. Num parque de pula pula. Onde ela vai brincar, pular, cair, se jogar, levantar a perna, abaixar a perna, abrir a perna, dar cambalhota… Eu sei que ela é só uma criança, mas não dá né?

EU (incrédula): Filha, você veio de saia??

Ao que ela me responde, serena:

Tá minha filha, tá linda.

Como falar pra ela que não ia rolar ela brincar no pula pula assim de saia?? Que ela devia ter colocado uma calça pra esse programa? Afinal a mãe sou eu né, ela só tem cinco anos, eu que deveria ter prestado atenção nesse detalhe antes de sair de casa.

Tadinha. Não da pra pular de saia, mas também não da pra dar a notícia de que ela não vai pular hoje.

O que fazer?? Posso procurar uma loja de roupas e comprar uma calça pra ela aqui perto? (não tem nada aqui perto…) Posso comprar ou pedir emprestado aqui no parque? (eles não tinham), quando achei uma solução.

Olhei pra minha bebê de um ano (que veste roupa de dois). Olhei pra minha filha de cinco anos (que veste roupa de seis a oito). E tive uma luz:

Dei o pijama da bebê pra ela.

Ficou ultra curto mas coube.

Filha pulou feliz da vida.

Bebê não entendeu nada mas ficou feliz, porque nessa idade eles sempre estão felizes né?

E mamãe solucionou mais um incidente maluco… (que parece que só acontece na minha casa, impressionante. Já leu o post da calcinha?)

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Tem um bebê em casa

Chegar em casa com a bebê foi um acontecimento muito esperado nessa casa. Bom, lógico, depois de quase quatro anos e meio sem bebê em casa, chegar com ela foi quem nem trazer um ET pra casa. Ou um saco cheio de pirulitos.

Ou uma tarântula.

Sempre me disseram que os mais velhos sofrem com ciúmes, então eu cheguei do hospital super preparada para fazer com que eles se sentissem o mais felizes possível com a nova moradora da casa. Primeiro, entreguei os famosos “presentes que a bebê trouxe” (da onde eles acham que vem esse presente? Do além? Do útero? Que depois de sair um bebê, sai de mim um carrinho de controle remoto e um kit de instrumentos da Peppa Pig? Deixarei essa dúvida no ar porque prefiro não entrar no mérito da questão com as crianças. Uma coisa leva a outra, e não quero que eles me façam MAIS perguntas…)

Aliás, não foi isso o que eles pediram de presente pra quando a bebê nascesse. Quer dizer, foi, mas conforme a gravidez foi progredindo eles foram mudando de ideia a cada mês. No fim minha filha pediu um carrinho de boneca (imaginem ISSO saindo do meu útero) e meu filho – meu pequeno mercenário, vê se pode… – leia mais sobre o tema neste post- pediu 50 R$ (o que pelo menos, pensando por outro lado, é beeem mais fácil de parir né?)

Enfim. Entreguei os presentes. E também algumas balas e pirulitos (como se eu estivesse pedindo desculpa por estar fazendo isso com eles. Tipo: “Filhos agora vocês vão ter que me dividir com uma terceira pessoa… por isso, toma aí uns presentes e doces pra ver se dá uma compensada, e se eu me sinto menos culpada)

Naquele momento funcionou, porque eles ficaram super contentes e excitados. Já minha culpa… Esta me acompanha até hoje, firme e forte. Já virou amiga íntima.

Sentei os dois no sofá de casa e deixei cada um segurar a bebê um pouco. Com todo cuidado do mundo (e rezando por dentro) depositei a pequena trouxinha rosa nos braços deles. Primeiro do meu filho. Depois, nos da minha filha.

Os dois se sentiram grandes e importantes.

FILHA: Posso brincar com ela no meu carrinho de boneca novo????

Por razões óbvias, não permiti. Delicada e gentilmente, afirmei que ela ainda era muito pequena pra brincar no carrinho de boneca. Então eles decidiram que seria uma boa ideia pegar todos os brinquedos de quando eles eram bebês e ficar chacoalhando na cabeça da recém nascida.

Porque com brinquedo de bebê ela pode brincar né?

Só digo uma palavra sobre aquele momento: socorro!!!

Tivemos muitos momentos SOCORRO desde então..

Coitada.

Mas tá dando tudo certo. E o pior é que ela gosta dessa bagunça frenética, é apaixonada pelos irmãos. De vez em quando ela chora porque eles exageram, mas pouco a pouco eles foram aprendendo a dosar as brincadeiras.

E foi assim, no dia a dia, que eles foram aprendendo a lidar com ela. E que eu fui aprendendo a lidar com os três. E que nós cinco fomos sobrevivendo ao primeiro ano da nossa bebê em casa…

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A história da calcinha

Para ler esta história você precisa se despir de todo e qualquer julgamento. Eu sei que é normal julgar os outros, fazemos isso todos os dias, blá blá blá.. Mas eu queria contar essa situação do jeitinho que aconteceu e me sentiria mais a vontade se meus queridos leitores me acompanhassem nessa empreitada livres de avaliações.

Era dia de “fundo do mar” na colônia de férias da minha filha. Ou seja, todo mundo ia fantasiado de seres do fundo do mar. Obviamente, minha filha nada influenciada pela mãe, ama as princesas da Disney e optou usar o seu lindo vestido da princesa Ariel- ou da Pequena Ariel, como ela a chama (para quem não sabe quem é, estou me referindo à Pequena Sereia. A princesa mais linda da Disney. Dê um google.)

Acordamos animados e minha filha se vestiu sozinha.

EU: Uaaau que linda você ficou!!

Escolhemos uma presilha de estrela do mar, penteamos o cabelo, colocamos uma sandália verde e VOILA! Prontas.

Verifiquei se todos estavam devidamente calçados, comidos, etc, e fomos para o carro.

Da minha casa até a colônia de férias dá uns 15 minutos.

Já havíamos percorrido mais da metade do caminho quando minha filha anuncia solenemente (como quem conta que foi à padaria comprar pão):

EU (incrédula): COMO SEM CALCINHA?? VOCE NAO PÔS CALCINHA????

Nem pensei em verificar se ela estava de calcinha antes de sair de casa. Afinal de contas, é uma coisa bem óbvia de se pôr. Não? Em geral o primeiro item da nossa vestimenta. E normalmente minha filha sai COM calcinha, como qualquer pessoa normal. Deve ter sido a empolgação em colocar a fantasia.

O fato era: minha filha estava sem calcinha. E adivinha? Na mochila dela justo hoje não tinha troca de roupa… Por que? Porque hoje não era dia de piscina. E porque Murphie e suas leis imperam sempre né?

Opções:

1- voltar pra casa pegar uma calcinha – fora de questão, eu tinha uma reunião e não daria tempo de refazer todo o percurso.

2- comprar uma calcinha no caminho – Hm. Boa. Se eu encontrar alguma coisa aberta antes das 9h da manhã. 

3- ir sem calcinha – por motivos óbvios, fora de questão. Nem sei porque coloquei como uma opção plausível. 

Bom, achei uma loja aberta. UMA. Daquelas de roupas francesas carésimas, que mancham só de olhar, e a criança assim que põe o vestido suja de molho de tomate ou de suco. O que a loja francesa estava fazendo aberta antes das 9 da manhã? Não sei. Talvez estivesse no fuso horário europeu.

Mas, no desespero, vamos tentar né? Vai que esteja em promoção. Vai que eles estejam distribuindo brindes justo hoje. E numa onda de otimismo desses Vai Que, lá fui eu.

Abri o jogo com a vendedora (impecável, diga-se de passagem.)

EU: Moça, minha filha saiu sem calcinha, preciso comprar uma calcinha. Você tem?

MOÇA (com um sorriso gentil): Não trabalhamos com roupas íntimas… Mas temos biquini.

Legal!! Biquini é uma ótima!!

EU: Pode ser!

Aí ela me mostra o tal do biquini.

Preço: R$ 359,00. Não é mentira. É sério.

Fora de cogitação.

Agradeci e saí da loja.

Já tinha perdido uns 3 minutos nessa parada.

Voltei pro carro e tive uma luz:

EU: FILHO DA SUA CUECA PRA SUA IRMÃ!! E VESTE SUA SUNGA.

Eu acho que eu devia estar com uma cara muito nervosa, porque eles nem discutiram. Em segundos minha filha estava de cueca e meu filho de sunga.

E seguiram seus dias como se nada tivesse acontecido. Minha filha de cueca e meu filho de sunga. Irmão é pra isso mesmo, né?

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As coisas bonitas que Ele faz

O que é D’us para você?

Alguém que você procura nos momentos difíceis? Um ser supremo que tudo pode? O criador do universo, do céu e da terra e de todos os seres? Seria o acaso, a natureza, as porções de felicidades, os pequenos milagres diários da vida? Seria – e essa dedico aos mais polêmicos – uma invenção do homem? Ou um velhinho de barba branca que mora no céu e recebe e-mails com cada pedido que a gente faz?

Bom, para a minha filha de 4 anos, D’us é uma linda princesa de vestido que arrasta no chão e que mora num castelo rosa-brilhante-de-flores.

Bem gráfico assim mesmo. E ela adora falar de D’us assim, do nada.

E num belo domingo, desses que a gente fica em casa sem fazer nada, meu marido perguntou pra ela ao notá-la concentrada olhando pela janela através do horizonte:

PAPAI: Filha o que você está olhando aí?

Profundo o negócio hoje né?

PAPAI: E o que você tá pensando sobre D’us?

FILHA: Estou pensando nas coisas bonitas que ela faz (ela = D’us)

PAPAI: Sério? Que legal filha… tipo que coisas?

E ela suspira, com ar de sabedoria, e responde:

FILHA: Ah, tipo o meu irmão.

Ah claro, tipo o irmão com quem ela por acaso acabou de se matar por um bichinho de pelúcia.

Sem mais.

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Conclusões dessa história:

1- Não tente entender as brigas do seus filhos. Se ninguém estiver se machucando, DESENCANA e vai cuidar da sua vida. Demorei pra aprender essa lição, mas assumo que minha vida mudou MUITO depois de começar a agir assim.

2- Minha filha de 4 anos pensa nas “coisas bonitas que D’us fez”… (Não sei se isso é bem uma conclusão, mas o fato ainda me espanta um pouco… tipo…  o quanto VOCÊ pensa em D’us? E nas coisas bonitas que Ele fez?)

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O bisavô de 90 anos

Meus filhos tem um bisavô de noventa anos. É o meu avô por parte de mãe.

Ele é daqueles vovôs de bem com a vida, tranquilos e cheios de saúde, sabem? Galanteadores, que estão com tudo em cima. Sabem apreciar a beleza feminina e ainda cantam as mulheres na rua. Ir ao shopping ou a farmácia com ele é sempre interessante, ele sempre encontra alguma vendedora bonita ou transeunte charmosa a quem possa cortejar, e eu me sinto de volta às décadas passadas, onde homens ainda faziam mesuras e saudavam mulheres.

Esse é o meu avô.

Bom, então este galanteador conversando com a minha filha de quatro anos:

BISA: Você é tão bonita!

FILHA: Eu sei bisa

Que bom que ela se tem em alta conta né? Auto estima vai bem, obrigada.

BISA: Quer casar comigo?

 

Decidida a menina.

BISA: Por que não?

E com toda sabedoria e sinceridade que só as crianças de 4 anos tem, respondeu:

FILHA: Porque quando eu for uma mocinha que nem minha mãe (mocinha, eu? Obrigada!!) você vai morrer. E eu vou ficar sozinha.

Então tá.

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Para quem está se perguntando a reação do meu avô, ele não ficou chateado, muito pelo contrário, deu muita risada da situação toda. Não é todo dia que um pedido de casamento é recusado com tanta fofura e sinceridade!! 

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O tal do parto

Toda grávida tem um certo receio do parto. Não tem jeito, dá medo. O que entrou na gente menor do que um grão de areia  vai sair com mais ou menos cinquenta centímetros e pesando três quilos. Fala sério, é pra dar medo em qualquer um, né? E uma das maiores dúvidas das gestantes é: como saber que é hora de ir pro hospital? No último mês cada dia é possível. Será que vai ser no sacolão, no cinema, na festa de uma amiga?

Imaginamos a cena básica: no meio da noite, a gente com dor, acorda nosso parceiro. “Amor acho que vai nascer!!!” Aí ele dá a mão pra gente, com todo o carinho, e iniciamos juntos a contagem das contrações no relógio, calmamente.

Ou a gente imagina que vai ser pega de surpresa. Numa consulta simples de nono mês, você ainda está de 37 semanas, e o médico te examina e fala “Querida, você está super dilatada! Vai nascer hoje a noite.”

Podemos ser mais dramáticas e achar que a nossa bolsa vai estourar em um lugar público. Que grávida nunca pensou nisso? A bolsa rompendo no meio do supermercado, a gente ficando toda molhada. E as pessoas correndo ao nosso auxílio, gritando “Vai nascer!! Vai nascer!!!!” Algum engraçadinho já com o iPhone em mãos filmando a cena toda, esperando que nos deitemos no chão e que demos à luz ali, entre os frios e os enlatados.

Gente, não é bem assim. Parto DEMORA. Salvo algumas exceções, grande parte do trabalho de parto consiste em esperar. Esperar a dilatação completar, esperar o anestesista chegar, esperar o bebê descer. É uma longa espera.

Bom, decidido que é hora de ir pro hospital, vem toda aquela emoção, ligamos para os familiares e vamos correndo para o carro (se você resolver ir de taxi como eu, tem que entrar fazendo cara de paisagem, senão ele não te leva, com medo que você dê a luz no banco de trás). A entrada e saída do carro é um trampo com todas as malas – a sua, a do bebê, a do pai, a das lembrancinhas, a dos docinhos e o tal do quadro da maternidade que ficamos meses planejando. Parece que vamos sair de férias por um mês.

Chegando no hospital a ansiedade bate forte. Será que vou conseguir fazer parto normal? Será que minha cesária vai dar certo? Será que vai demorar ou vai ser rapidinho? Eu quando cheguei no hospital achei que iam me tirar do carro numa maca, me levar correndo pra sala de parto, uma gritaria tipo E.R. Mas não, tudo correu muito calmamente. Cheguei, esperei, meu marido preencheu o protocolo, fizeram a triagem para confirmar que eu de fato estava em trabalho de parto (aparentemente meus gritos não foram suficientes). E tudo isso sem nada de pressa, no maior bate papo animado. Aí, constatado que realmente era hora de nascer, me colocaram numa cadeira de rodas (finalmente !!!) e me levaram até a sala.

Me vestiram num aventalzinho branco, colocaram uns tubinhos na minha veia, mediram minha pressão e falaram “agora espera”. E fiquei lá, meio esquecida. Morrendo de dor, xingando quem aparecesse na minha frente, e todo mundo em volta agindo normalmente, realizando suas funções do dia a dia. Era um entra e sai de enfermeiras na sala, trazendo coisa, levando coisa, conversando sobre a festa da semana que vem e sobre o placar do jogo do Corinthians. E eu lá, naquela situação.

Quando eu achava que aquilo não ia acabar nunca, que a dor ia durar para sempre, chegou meu anestesista, santo doutor Eduardo. E pronto, em quinze minutos o mundo se tornou um lugar mais bonito. De repente eu percebi que na verdade meu marido era um fofo de estar la do meu lado me dando a mão – e não mais um canalha idiota e culpado por toda a dor que eu estava sentindo. Até as enfermeiras de repente pareceram mais simpáticas e solícitas. O mundo voltou a ser um lugar civilizado. Fiz piadinhas para a câmera de video e reparei em como a sala de parto era muito mais aconchegante e charmosa do que eu imaginava quando tudo começou.

Passada a fase ESPERA, chegou a hora de nascer. E de repente todos os presentes na sala se posicionaram numa plateia organizada: o pediatra, o ajudante do pediatra, as enfermeiras, o seu médico, o assistente do seu médico, o anestesista, e mais um enfermeiro que estava de passagem pra sua hora de almoço, ouviu a confusão e resolveu entrar. Aquela bagunça toda: faz força, mais força, mais um pouco de força. Nasceu?? Nasceu!!! Tira o bebê, dá pro pediatra, cuida da mãe. E depois de se certificarem de que está tudo bem, pesarem e medirem a criança, me ofereceram o meu pequeno e lindo prêmio: um embrulho minúsculo de touquinha na cabeça, parecendo um joelhinho amassado, que era a cara do pai.

Bom, aí eu aprendi algumas lições. Que as dores do parto e do pós parto não tem nada de romântico. Que as contrações são de morrer, a cicatrização é complicada, o peito parece que vai explodir com a descida do leite. Que você fica pálida, andando que nem uma pata, e ainda tem que sorrir e se arrumar para as visitas que vem pra te parabenizar. Mas faz parte do pacote, e rola uma pressão para sair do parto linda, magra e recuperada – não rola?? Aprendi que cada mulher é uma mulher, e que cada parto é um parto. (Conheço gente que não sente nada de dor, gente que grita até não poder mais. Tenho uma amiga que não percebeu que estava em trabalho de parto e deu a luz em casa. Uma que ficou treze horas internada esperando a dilatação completar até nascer. Outra que fez cesárea marcada. Uma que a bolsa estourou no meio da noite enquanto ela dormia. Outra que depois de passar da data, foi para indução. Tem uma conhecida minha que deu a luz no carro – afinal seu bebê resolveu nascer as seis e meia da tarde de uma sexta feira chuvosa em plena Avenida Rebouças).

Mas acima de tudo aprendi que mesmo que você jure com todas as suas forças que nunca mais vai passar por essa agonia de novo e que considere loucas todas as mulheres que vão para o segundo filho, depois de uns meses você esquece de toda a dor e desespero – e aí fica pronta para ter o seu próximo pacotinho.

Dessa vez rosa, quem sabe?

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Novidades!

Queridos leitores,

É com imenso prazer que comunico o nascimento de nossa terceira filha!! Agora somos uma família de cinco integrantes..

Eu sei, eu sei, nem postei que estava grávida. Nem avisei ninguém. Que falta de consideração da minha parte.. É que a vida já tava bem louca com minhas duas crias, aí a terceira gravidez passa meio “desapercebida” sabe?

É assim que funciona, a primeira gravidez você está tão animada que conta pra todo mundo! Ah que maravilha! A gente corre ligar pra mãe, pra sogra, pra tia, pros amigos do trabalho, pro vizinho. Faz a festa. Até o seu porteiro sabe que você está grávida (antes da barriga sequer dar as caras)

Tudo é lindo. Dá até pra sentir aquela minúscula sementinha florescendo no seu útero. A gente sai pra comprar roupa de grávida, mesmo que a barriga não aumentou um mílimetro ainda. E fica se admirando no espelho com aquela barriga falsa que a vendedora te ofereceu. “Você vai ficar liiiinda de barriga!!”. Gente, grávida é que nem noiva. Já viu grávida feia? Não. Você já viu grávida meio inchada. Grávida meio pálida, grávida meio acima do peso. Agora, grávida feia, não.

Bom aí chegam os enjôos. Não só os matinais, como os vespertinos e noturnos também. Aliás nem sei porque deram o nome de enjôo matinal. É só sentir o cheiro de qualquer coisa que já sobe aquela ânsia, não importa a hora do dia. E não passa tão rápido, não. Fica aí no mínimo uns três meses até ir embora. E no primeiro filho, é aquela coisa:

No terceiro filho não tem isso, não. É tipo “aguenta aí, amiga, que daqui a pouco as crianças dormem e você pode deitar e passar mal a vontade”

E os hormônios? Pense numa TPM brava. Agora imagine ela se alastrando por semanas. Antes do café da manhã, eu já tinha sentido frio, calor, ódio mortal, fome e enjôo. Isso que não são nem 9 horas da manhã. A gente fica sensível, a flor da pele. A mistura é tão louca que o meu santíssimo marido que se cuidasse, afinal era TUDO culpa dele eu estar naquele estado!! A gente ama, odeia, quer abraçar bater, tudo ao mesmo tempo. Meu marido, coitado, toda noite fazia uma prece no elevador antes de entrar em casa.

No terceiro filho você se contém mais, precisa estar mais equilibrada, afinal, tem outros dois pra dar conta em casa – que já estão suficientemente sensíveis com a notícia da gravidez.

Aí o tempo vai passando e a gente começa a contar tudo em semanas. Eu tô de 19 semanas. O aniversário da minha mãe é daqui a 9 semanas e meia. A festa da empresa foi há 7 semanas. Fulana tá de 32 semanas e nem parece que tá grávida. Aí sentimos o primeiro chute. Que delícia!! Todo mundo quer sentir. A mãe, sogra, até o seu chefe. “Esse aí vai ser jogador de futebol!!” falam os papais, todo orgulhosos. E sempre, SEMPRE que alguém põe a mão para sentir, o bebê pára de se mexer.

Aliás quando a barriga aparece ela vira pública né? O pessoal no meio da rua já chega chegando, ‘ai que coisa linda! Para quando você ta?’ e posiciona a mão na sua barriga. E se você é do tipo mais tímida ou faz cara feia você se torna A grávida estúpida.

Os meses vão passando e a gente já se cadastrou em todos os sites de bebê possíveis, já comprou vários livros sobre gravidez, está por dentro de tudo o que pode ou não esperar quando você está esperando. E de repente começa a usar um monte de termos médicos e está super antenada em medicina fetal. Falamos sobre como o bebê está grande, ou sobre como a placenta baixou, ou sobre o fluxo do cordão e o nível do líquido amniótico. E se a gente encontra outra grávida, mesmo que desconhecida (seja na rua, no shopping, na sala de espera) rola aquele olhar de compreensão, tipo “nós duas nos entendemos, estamos carregando um ser dentro de nós”. E se iniciamos uma conversa, ninguém segura mais: “De quanto tempo você está?” Começamos falando sobre as tais das semanas, o sexo do bebê e por aí vamos. Falamos sobre a decoração do quarto. Sobre possíveis nomes. Sobre como está a sua alimentação ‘equilibrada’, tomando 4 litros de água por dia como mandam os livros.

Perto do final da gravidez a gente está que não se aguenta mais. Aquela sementinha minúscula te transformou num balão. Suas costas estão acabadas – eu pelo menos me sentia uma idosa de 105 anos andando. Sabe aquelas roupas de grávida que você tão empolgada comprou há alguns meses? Você não agüenta mais olhar pra elas. O calor é de matar. Você faz em média 30 xixis por dia. Os chutes que antes eram pequenas tremidinhas meigas se tornam verdadeiros terremotos. Você está há dias sem dormir, afinal não tem posição por causa da barriga. Cansada, com dores pelo corpo, e esperando o bebê resolver dar o ar de sua graça – (no caso de um parto normal). Uma lista infindável de reclamações. E os conhecidos não dão trégua. Falta ainda duas semanas para a data, o pessoal já começa: “Esse bebê não tá querendo sair né??” “Deve ser porque tá frio aqui fora, ele tá curtindo ficar no quentinho he-he”.

Bom, mas na terceira você já está mais preparada pra tudo isso. Se for esperta, (eu não fui), já joga a data provável do parto mais pra frente, e aguarda para contar a novidade somente quando a barriga já tiver aparecido. A minha data provável era 12/02 e ela nasceu 8 dias depois!! E eu, como já sofri um aborto espontâneo aos 3 meses de gestação, espero para contar só quando já estiver tudo bem, os morfológicos feitos, etc.

Nossa nova integrante nasceu no dia 20 de fevereiro de 2017! Estou muito empolgada e ansiosa pelas novas aventuras como mãe de três.. Aguardem =)